Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sobre as coisas perdidas



Eu perdi o eu de ontem. Hoje é tudo tão diferente. E amanhã eu nem serei nada do que imaginei hoje. Nunca alcanço o amanhã. A areia do relógio do tempo sempre acaba antes. E recomeça em um ponto qualquer. Não há uma pausa. Não há parada. O pouso é sempre em algum lugar distante. Longe de mim, sem o eu. O céu apaga-se depois da ponte, é uma nuvem. E ninguém mais sabe de mim. Eu fiquei distante e desmarco as horas que o ponteiro insiste em marcar. Deixo um vazio. Fico no vazio. No silêncio. No chão da sala sem os tapetes.  É  frio e alguns farelos de biscoitos estão pontuando o piso de madeira escura. Como se fosse um rastro antigo, uma trilha de alguém que morou aqui. Alguém foi embora. Deve ter sido eu ontem...


Um comentário:

Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.