Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A.D.O.R.M.E.C.E.R




Durma bem, meu bem.
( E me avise quando for hora de retirar essa vírgula. )
Durma bem meu bem.
( E me avise quando for hora de acrescentar reticências.)
Durma bem meu bem...
( E me avise quando for hora de retirar os parênteses.)

Apenas durma bem meu bem.


Que não se acabe aqui


Aqui
Trabalhando 
por dias
mais bonitos.
Colocando flores 
no centro 
da mesa.

Aqui
Querendo 
um tempo mais
Leve.
Buscando 
Outro Norte
sem mapa.

Aqui
Ouvindo
outras músicas
novos sons.
Experimentando 
sabores puros
Autênticos.

Aqui
Escrevendo
um futuro
que não se demora.
Sonhando
um presente
Plural.



domingo, 28 de dezembro de 2014

Delicate





Guardei algumas respostas
Para o caso de achar as perguntas certas.

Por enquanto permaneço no encantamento do Silêncio
habitando-me, 
preenchendo o espaço das perguntas
que ainda não ouso pronunciar.


Irreticência





Aqui, vez ou outra te acaricio, com os olhos.
Em silêncio te sei com uma certeza que não conhecia.




Love story - Eric Segal


Que se pode dizer de uma moça de vinte e cinco anos que morreu?
Que era bela. E brilhante. Que gostava de Mozart e Bach. E dos Beatles. E de mim. Um dia quando ela me ligou especificamente a esses tipos musicais, perguntei-lhe em que ordem gostava de nós, ela me respondeu sorrindo: " Alfabética ". Na ocasião, sorri também. Hoje fico a pensar nisso sem saber se ela me relacionava pelo nome de batismo - nesse caso, eu viria depois de Mozart - ou pelo sobrenome, e, assim sendo, o meu lugar seria entre Bach e os Beatles. De qualquer maneira, eu não estava em primeiro lugar, o que, pela mais idiota das razões, me aborreceu, pois eu crescera com a ideia de que tinha de ser sempre o primeiro. Herança de família, sabem como é?
(...)

Estava fazendo muito frio, e isso de certo modo era bom, porque eu estava tão entorpecido que precisava sentir alguma coisa. Meu pai continuou a falar comigo e eu continuei parado, deixando que o vento frio me batesse no rosto.
- Logo que soube, vim no meu carro.
Eu tinha esquecido o sobretudo e o vento frio me fazia doer o corpo. Isso era bom... Bom.
- Oliver - disse meu pai ansiosamente -, quero ajudar.
- Jenny está morta...
- Sinto muito... - disse ele num murmúrio atônito.
Sem saber por quê, repeti o que havia aprendido desde muito tempo com a bela mulher que acabava de morrer.
- Amar é jamais ter de pedir perdão.

Fiz então o que nunca tinha feito na presença e muito menos nos braços dele. Chorei.


Um clichê clássico. Diriam os entendidos que é quase cafona. Gosto dele não pela literatura em si, e hoje também não mais tanto pela história, mas há algo de muito belo no meio dessas páginas já tão amareladas e com um cheiro forte de livro bem antigo. Um belo triste sim, bonito pela simplicidade com que trata o Amor. Esse romance publicado em 1970 vendeu mais de vinte milhões de cópias e foi transformado em filme, não acredito em comparações de artes tão distintas, mas esse é o único caso em que gostei mais do filme do que do livro. Cada qual com seu charme.

Não faço ideia de porque lembrei desse livro hoje, talvez porque seja um domingo chuvoso e eu ouvi Bach, ou porque um amigo falou em programas antigos na televisão e  lembrei de filmes que passavam na sessão da tarde. Enfim foi bom lembrar, cheirar e escrever sobre os Amores que nascem, que morrem e que vivem dentro de nós, estejam eles onde estiverem que estejam bem.

( para ler em um domingo qualquer de chuva, ouvindo Air - de Bach - aus Ouvertüre N° 3 )



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sobre panetones, selfies e farofa


 Sempre que dezembro chega por aqui, traz consigo um saco cheio de animosidades. O Amor é negociado como moeda de troca, e no mercado de hoje parecemos tão pobres, carentes e necessitados. A palavra da moda é Ostentação e a felicidade banalizada em selfies cada vez mais ensaiadas onde o verdadeiro eu quase sempre fica oculto. Dezembro só nos permite felicidade, mesmo que apenas para ser exibida de maneira tão irreal, são apenas sorrisos forçados de um bando de gente que corre apressada e sem paciência para conseguir o melhor presente, o maior peru, o espumante mais gelado e o panetone mais recheado. Para que? Se nessas festas o presente nunca será bom o bastante, o tempero do peru nunca estará ao agrado de todos e o panetone coitado sempre sobra. Quem tem fome de verdade não tem festa alguma para ir.

 Papai Noel, se estiveres ouvindo traga um pouco de coerência. Ho Ho Ho

Os mais otimistas, os sempre alegres dirão que isso pareceu Amargo. E amargo é querer que tudo isso acabe logo, e que logo passem também as festas de ano novo, porque as benção da crença de que tudo será perfeito no ano que se inicia também não caíram sobre mim. Quero logo que chegue a nova estação e que folhas secas e amareladas cubram o chão, para que eu finalmente acredite que a vida voltou ao seu leito normal. E que esses que emanam essa aura de urgência em ser feliz agora sejam engolidos por toda essa loucura que paira no ar quente de seu sorridente dezembro.

Eu quero abraços sinceros independente de datas, quero sempre que puder, dar um presente bonito a alguém, qualquer dia do ano, pelo simples fato de estar feliz de verdade, ou pelo desejo genuíno de querer despertar um sorriso no rosto de um ser querido. Quero estender uma toalha bonita na mesa pela gratidão de uma vida simples. Quero que queiram estar comigo, na desobrigação de qualquer data maior do que o desejo de estar na presença de outrem. Não quero ter um roteiro ou um protocolo a seguir. 

Que as crianças entendam que Papai Noel é só a representação de um Amor que pode existir durante um ano inteiro. Um desejo de Natal diário e contínuo, uma fonte inesgotável de pequenos gestos. Uma rotina de gratidão e renovação, porque perdão também acontece ao acaso, mesmo que não tenhamos participado da ceia. 

 Eu creio na fidelidade consigo mesmo. Da mesmo forma que quero que para mim tudo isso acabe logo, desejei sempre que a verdade de cada um seja sempre bonita e respeitada, se for importante exteriorizar, que se faça. Se a comemoração é indispensável, que cada qual saiba o que mais lhe agrada na sua farofa. Mas que me seja permitido não participar.

De resto, só acho que panetone combina muito mais com café quente no inverno.



domingo, 21 de dezembro de 2014

Olha só






E no prezado momento:

- Vontade de olhar para fora.
- O que te impede?
- O medo.
- Ele é tão maior que tua vontade?
- Parece que não.

( e faço o que com todos esses serás que ficam pulando na minha cabeça como grilos de três patas? )


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Dentro



As lágrimas guardadas endurecem grudadas na alma,
Carregada, cheia, pesada e transbordante

Falta a suavidade do toque,
capaz de derrubar montanhas de sal


Fica o vazio de um sentir sem resposta
Fica aqui quem nunca teve coragem de quebrar a casca

Permanece o silêncio de todas as respostas que nunca chegaram
O tempo se arrasta e engole horas que deviam ser vividas em outro lugar

Perto do mar, quase a estação que tanto te adora,
Mais uma estação em que apenas um de nós mergulha

Nunca acreditei no verão
Aqui é sempre inverno e a noite também amanhece junto com o dia.







sexta-feira, 14 de novembro de 2014

De tanto sentir


Tanto tu e nada mais do que fui
Tudo convergia para o ponto onde começamos.
Tudo era saudade deixando lágrima em algum canto meu.

Tudo Me Perdia.

( Tentei somente em vão, talvez mesmo o tudo ainda fosse pouco. Adoeci de sentir. Fugi de mim. Estive longe e senti frio. Bruscamente mergulhei na dor da realidade de perder. 
Nunca mais te vi. )





sábado, 31 de maio de 2014

A dormência do tempo


Algumas horas são  incertas. Agora quase no tempo em que a estação muda, perto das seis da manhã nem o dia sabe se amanheceu ou a noite sabe se ainda demora. É tempo arrastado, é hora que se perde. É dia que não chega e noite que não acaba. Uma espécie de vazio atemporal. E ainda chove.

Quanta coisa que não se pode saber. Quanta coisa que deve deixar assim quieto no meio dessas horas dormentes. Um princípio de ironia.


Simplificando


Saudade
de quase tudo. ( hoje )

Saudade
de ti. ( permanência )

Saudade
de mim. ( me perdi )

Saudade
do que deveria ter sido... ( futuro inexistente )

Saudade
                   ( uma Ausência )



sexta-feira, 21 de março de 2014





Ainda quero pensar em Sânscrito.



A lente mais grossa


Acho que alguma vez o corpo precisa expurgar os acúmulos da carne e da alma. Sangrar e chorar. Sincronizar o que precisa ser curado e o que precisa ser urgentemente eliminado. Então, de repente, um simples arranhão vira uma ferida aberta e purulenta, que coloca para fora tudo que o corpo teimosamente insiste em manter por entre as entranhas, e as vezes as próprias entranhas precisam sangrar. Esse tempo nos obriga parar. Sentir toda a dor e chorar. Colocar para fora o mal que engolimos por certeza em uma vida inteira e por suposição quiçá quantas outras. Parar. Reavaliar. Sentir. Eliminar. Valorizar a dor, pelo tempo suficiente para o entendimento e depois pedir sabedoria para abandoná-la e também sua casca. Respirar. Reaprender a respirar, e se necessário caminhar com menos pressa, pisando mais leve e demorando-se mais no que é micro. Amadurecendo a alma e fortificando o corpo. Abandonando as certezas. Abraçando árvores e perdoando pessoas. Perdoando a primeira pessoa do singular. Seguir para algum lugar, que pode não necessariamente ser em frente ( ao lado, e também há um outro lado. ). E sempre haverá o lado de dentro, aquecido e amaciado pelo equilíbrio do auto conhecimento. Uma repetição que pode ser agradável na rotina que quer ser envolvida por um pouco de paciência, com o teu tempo e com o tempo do outro. Um aceitar-se como ser mutável.

( era só uma teoria sobre a aceitação e o amor incondicional que virou um parágrafo meio zen, meio bicho grilo. Assim assim, meio do nada, sobre quase tudo, mas bem sem intenção de ser algo grande. Só queria ser escrito. Só para lembrar de ser. Só algo de hoje, para um amanhã mais bonito. )




Um medo entre tantos


Uma impermeabilidade na alma. 
Nada consegue entrar por entre o que já nos ocupa. A dor é sempre funda e por trás dela ( se a força permitir ainda ) o que surge é sempre mais dolorido. Não há pausa para cura, não há o que se faça que mude o sentimento tingido de turbidez. A pressa, o pulso, o sangue, a ferida. A inércia e a dor, o frio e a demora de tudo que pudesse significar alívio. A esperança engolida como a noite que nunca acaba e marca os olhos de uma cicatriz por sob as pálpebras. O que não pode se esquecer, que grita e quer sair, mas está preso. Um muro alto. Uma sombra, um assombro. Uma incerteza, um amanhã arrastado. 

( Se fosse permitido despir-se de toda crença e a nudez da alma trouxesse algum alívio o pranto poderia antecipar-se, o espaço entre o abrir dos olhos seria suavizado. Por hoje ainda preciso acender uma vela e pedir proteção. Acreditar em tudo que existe entre o que não se vê e que se deseja tocar. )




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Emma - de Jane Austen


Essas mulheres incríveis de Jane Austen. 
Emma vai ficar para sempre no meu coração. História bela e inspiradora. Cativante e meiga, tão cheia de pormenores. Um romance verdadeiro, clássico. Eterno. Como ela podia em 1816 ter tanto tato com uma verdade que ela nem mesma pode vivenciar? Quanta delicadeza e cuidado na construção de cada personagem. Quanto amor pela escrita. Impossível não citar a elegância da narrativa. Absolutamente impossível não admirar tamanho talento.


" - Não posso fazer discursos, Emma - prosseguiu o Sr. Knightley, em um tom suave e sincero que denotava uma profunda e convincente ternura. - Talvez se a amasse menos eu conseguisse dizer mais. Mas você sabe como sou. Nunca ouviu de mim senão a verdade. Eu a acusei, a repreendi e você suportou tudo como nenhuma outra mulher na Inglaterra o faria. Escute as verdade que vou lhe dizer agora, querida Emma, como sempre tem feito. O modo que vou dizê-las talvez as recomende muito pouco... Deus sabe que tenho sido um apaixonado muito indiferente. Mas você me compreende. Sim, veja, você compreende meus sentimentos e os retribuirá se puder. No momento peço-lhe apenas que me permita ouvir sua voz, pelo menos uma vez. (...) 
      Agora, ela era sua Emma pelo sentimento e a palavra quando voltaram para casa. " 


Para ler em um final de semana tranquilo. Para reler sempre que precisar acreditar em histórias bonitas!



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014



Para mim!
Para te esperar
( eu sei que tu vens aqui vez ou outra )
Esse te esperar é bonito
 Se eu as mandasse até ti, acho que te apresso.
Por nada te quero com pressa
( hoje é apenas de flores essa urgência )
Teu tempo é lugar sagrado
E quem se demora sempre sou eu.
Cabe em mim todas flores dessa hora que talvez seja 
apenas de enfeitar palavras que tem medo.
De ti e de mim
De um nós que se reencontra depois da época da poda,
quando as folhas já caíram e estão brotando gemas de algo bonito.
Te espero
( com flores )
Me espere. É só o tempo de sarar alguns pontos pequenos.
Logo a estação é nova, e tudo muda.
Nunca acreditei no verão.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sobre figos e uvas


Já estamos novamente na estação dos figos, eles amadurecem junto com as uvas. Irmãos. Dividem a mesma terra mãe e a mesma doçura, diferem na cor e textura. São pares. São únicos. Úmidos e densos. São raros. Não ousaria misturá-los, são perfeitamente distintos. Suculentos. A cor da uva, o cor do figo. Cores ásperas, na casca do figo os dedos sentem a porosidade por onde sua polpa doce quer respirar. A uva de casca lisa guarda os taninos que se apuram para envelhecerem em garrafas verdes. Doce de figo feito liquido de uva fermentado. O vinho. O doce do próprio figo explode em sabores nas sementinhas perdidas às milhares, que  cozidas com açúcar são granulosas como a própria terra onde crescem. A uva exala perfume, os figos racham-se, e formam uma gotinha que provoca inveja nas abelhas atraindo formigas e, nós. 

Deixa eu te contar dos figos e das uvas? Deixa eu te servir uma salada de rúcula com presunto cozido, queijo e figos com mel? Toma uma taça de vinho comigo? Me conta que gosto tem os figos para ti?

( impossível morder um figo maduro e não pensar em ti )






Monólogo


A insônia sempre chega, nunca falha. Me olha como se minha insanidade perante ela fosse de uma pureza imaculada.

Por que estás aqui?
És monstruosa de insensibilidade.
Te odeio tanto que acabo por confundir-te com minha própria loucura.
És minha loucura, noturna.
És tão tola. Não percebes que posso deixar-te cega?
Por que não desistes? Por que não te aquietas?
Queres me levar mais o que? Onde queres chegar?
Por que conversamos?
És muda, e, feia.

(  estranha, nunca tranca a porta quando entra, chega sem avisar e vai embora quando bem entende, fala sozinha e nunca toma chá. És definitivamente uma louca a vagar pelas madrugadas, insolente e mal vestida. )

Quem falava, eu ou tu?






Todo resto era irrelevante


Fui dormir pensando nisso 
passei a noite acordado com a ideia fixa
agora estou decidido: vou me mudar!
pros teus lábios
quero morar neles
e instaurar um domingo morno e preguiçoso a cada beijo
[ muita, muita vontade de morar no teu beijo ]

E quando nos beijávamos e eu perdia a respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nascente?

E me respondias, voz trêmula:
estou nascendo agora

E a tua mão ascendia 
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?

E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti meu amor.


Mia Couto 

***

Naquela hora minha boca era cor de febre, e eu te amava sem palavras. Era apenas o toque dos lábios que ficaria adormecido, na lembrança, no meio da tua suavidade. E, coube no beijo, dois corpos, que mesmo distantes, agora falavam tântrico. Nesse mesmo momento, muitos, muitos segundos de pele e saliva. Nos tornamos mortais e antiquados. Caímos. ( de paixão, acreditas? )



E se colocar um pouco de pimenta?





quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Elizabeth Gilbert


Li Comer, Rezar, Amar em 2009. Depois disso o li mais duas vezes, a última semana passada. Cada nova leitura é um novo presente. O livro autobiográfico em que Elizabeth Gilbert, escritora americana, na época com 36 anos, narra sua busca pelo equilíbrio, depois de um divórcio tumultuado e o rompimento de um romance turbulento. A autora embarca numa viagem que duraria quase um ano, dividida em três roteiros fantásticos. 

Decidida a reencontrar os prazeres da vida viaja à Itália, depois disposta a encontrar Deus ou apenas sua paz interior hospeda-se  em um templo budista na Índia. Três meses depois e sentindo-se mais perdida do que nunca chega à Bali, onde encontra um antigo guru que havia feito previsões acertadas alguns anos antes. Elizabeth não apenas se reequilibra espiritualmente, como também redescobre o Amor.

Esse não é o primeiro trabalho da autora, antes desse havia escrito Peregrinos, escolhido em 1997 pelo New York Times como um dos livros notáveis daquele ano e finalista do prêmio Pen/ Hemingway. Uma coletânea de contos fantástica. Uma coleção de contos de mulheres fortes e reais. 

Depois de Comer, Rezar, Amar, Gilbert escreve Comprometida, em 2010, onde narra sua aventura de casar-se novamente. De maneira bem humorada ela fala sobre sua história de amor e sobre os mitos do casamento nas mais variadas culturas.

O livro de mais sucesso certamente foi Comer, Rezar, Amar que virou filme e atraiu milhares de espectadores. Confesso que não gosto muito de comparar duas artes tão distintas como a literatura e o cinema, mas aqui fica quase impossível a não comparação, quem apenas vê o filme, mesmo sendo muito bem feito e muito fiel ao livro, perde muito da narrativa detalhada.

Em uma entrevista recente Elizabeth Gilbert fala que tentar escrever algo depois do estrondoso sucesso de seu best seller é assuatador. Para nosso sorte ela é uma mulher corajosa e no ano passado lançou A assinatura de Todas  as Coisas. Um romance de época que hoje a autora considera como seu melhor trabalho, e eu estou ansiosa para ler.
 ***

Comer Rezar Amar, um livro para quem busca coragem de seguir o próprio caminho.
Peregrinos, um livro inspirador sobre a alma feminina.
Comprometida, um livro sobre a realidade por trás do mito da instituição do Casamento.






quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hipoteticamente uma espera


Eu te esperaria, se prometeres que vens, fico aqui. Espero. Não demores. Espero. Não sei dos teus planos para hoje, só quero que tenhamos um hoje. Que sejamos nós. Que não estejamos sós. Espero. Não esperes, venhas. Me ensines como fazer. Quero deixar as hipóteses de lado e ser verdade. Estranhamente penso no futuro e nos coloco lá. Mas e o agora? Espero. Uma saudade hipotética, uma solidão que parece bem real. Um aperto no peito que machuca sem tocar. Uma realidade dentro de uma história inventada. Não temos garantias. Não temos certezas e nem motivos para acreditar. Como também não temos nada que nos leve na direção contrária. Não temos nada. Espero. 

Eu te chamaria, se não tivesse tanto medo de tudo que nos observa ao longe. Nem tão longe. O passado é logo ali. Espero que passe. Espero. Escrevo-te. Espero que tenhas aprendido a ler. Não há razão para buscar cartas sem remetente. Tomara que esperes.



Do encantamento de te esperar


Não te quero apenas possibilidade
Não te quero distante
Não te quero fantasia

Te quero real
Aqui comigo
Palpável

Não te quero apenas amigo
Não te quero ausente
Não te quero metade

Te quero inteiro
No abraço
Sempre

Não te quero apenas ilusão
Não te quero receoso
Não te quero inatingível

Te quero Amar
No encontro
No encanto de um hoje



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E no dia da Saudade?



O Sentir da Saudade faz barulho

 ( Quanta coisa que tu nunca saberás. )

Poderia também crer que: O Sentir dá Saudade e faz barulho

  ( Quanta coisa que tu nunca me permitirás entender.)

No meio de tanto barulho de Saudade resta apenas o vazio da Ausência.

   ( e nesse vazio cabe tanta coisa;  permaneceremos. )

                                                                                ***


* E de quem será que foi a ideia de que a saudade escolhe dia?



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Palavra


   Companheiro, vem do latim - Cum é com, panis é pão. Um companheiro é a pessoa com quem tu repartes o pão.

   Tem como ser mais bonito?

( Do livro Mil dias na Toscana de Marlena De blasi )


domingo, 26 de janeiro de 2014

Confesso que vivi - Memórias de Pablo Neruda


Quando terminei de ler suas memórias, acendi uma vela de gratidão, pela sua Poesia e, por seu Legado. Acho que Neruda ainda respira através de cada verso seu. É imortal;

Ele escreve:
A POESIA

QUANTA OBRA de arte... Já não cabem no mundo... É preciso pendurá-las fora das casas... Quanto livro... Quanto livrinho... Quem é capaz de os ler? Se fossem comestíveis... E se numa onde de grande apetite fizéssemos deles salada, se os picássemos e os enfileirássemos... Mas já não se pode mais... Já nos têm pelo cabresto... O mundo se afoga nessa maré...  Reverdy me dizia: "Avisei ao correio para que não me mandasse mais livros. Não podia abrí-los. Não tinha lugar. Trepavam pelos muros, temi uma catástrofe, despencariam sobre minha cabeça..." Todos conhecem Eliot... Antes de ser pintor... de dirigir teatro, de escrever luminosas críticas, lia meus versos... Eu me sentia lisonjeado... Ninguém os compreendia melhor... Até que um dia começou a me ler os seus, e eu, egoisticamente, corri protestando: " Não os leia, não os leia"... Me tranquei no banheiro, mas Eliot, através da porta, continuava lendo... Senti-me muito triste... O poeta Frazer, da Escócia, estava presente e me repreendeu: " Por que tratas Eliot assim?"... Respondi: " Não quero perder meu leitor. Eu o cultivei. Ele conhece até as rugas de minha poesia... Tem tanto talento... Pode fazer quadros... Pode escrever ensaios... Mas quero guardar esse leitor, conservá-lo, regá-lo como planta exótica... Tu me compreende Frazer"... Porque a verdade, se isso continua, os poetas publicarão somente para outros peotas...Cada um tirará seu livrinho e o meterá no bolso do outro... Quevedo o deixou um dia sobre o guardanapo de um rei... Isso, sim, valia a pena... Ou, em pleno sol, a poesia numa praça... Ou que os livros desgastem, se despedacem nos dedos da multidão humana... Mas a publicação do poeta para o poeta não me tenta, não me provoca, não me incita senão a me emboscar na natureza diante de um rochedo ou de uma onda, longe dos editoriais, do papel impresso.... A poesia perdeu seu vínculo com o distante leitor... É preciso recobrá-lo... É preciso caminhar na escuridão e se encontrar com o coração do homem, com os olhos da mulher, com os desconhecidos das ruas, dos que certa hora crepuscular ou em plena noite estrelada precisam nem que seja de um único verso... Esse encontro com o imprevisto vale pelo tanto que a gente andou, ou por tudo que a gente leu e aprendeu... É preciso perder-se entre os que não conhecemos para que subitamente recolham o que é nosso da rua, da areia, das folhas caídas mil anos no mesmo bosque... e tomem ternamente esse objeto que nós fizemos... Somente então seremos inteiramente poetas... Nesse objeto viverá a poesia...

E depois escreve:

É verdade que o mundo não se limpa das guerras, não se lava do sangue, não se corrige do ódio. É verdade.
Mas é igualmente verdade que nos aproximamos de uma evidência: os violentos se refletem no espelho do mundo, e seu rosto não é bonito nem para eles mesmos.
E continuo acreditando na possibilidade do Amor. Tenho a certeza do entendimento entre os seres humanos, logrado sobre o sofrimento, sobre o sangue e sobre os cristais quebrados. 





( E eu leio e leio e releio, e até me atrevo a colocar reticências nessa leitura... Durma bem Neruda. Durma bem. )



O dia que permanece noite


O cachorro  sem comida
O telefone tocou, não sei quem ligou
O chuveiro pingando em intervalos regulares
A escova de cabelos intocada sobre a penteadeira
Alguma coisa estragou na geladeira
As flores no vaso da mesa estão murchas
Não se ouve nenhuma música aqui
Alguns copos sujos
Um livro fechado.
A chave virada na fechadura impedindo que algum desavisado entre


( perdoe-me hoje é domingo e ainda não estou curada disso de achar tão invivível essa dia )




sábado, 25 de janeiro de 2014




Uma caixinha de guardar sonhos bonitos!


Sonhei contigo


Porque não se acaba, o amor. 
Porque o que permanece,  é sempre amor. 
Porque o que sinto ainda é plural e mesmo em silêncio é eco de um nós, bonito. 

E quando nos sonhei eramos somente pessoas amadas, sem bagagens e sem medida de tempo, apenas nós, vivendo o sentimento de uma forma que só quem teve que esperar sabe como pode ser puro.

O beijo inacabado permanece. 
O tempo marca. 
O amor quando não vivido é belo, doloridamente belo. 

Te guardei assim. De alguma forma te tenho comigo, és meu para sempre. Imaculado. Não esqueço, mas hoje a lembrança é mais próxima. O sonho. Palpável. A saudade nunca é uma ausência. És feito da mesma matéria bonita de tudo que se quer guardar para ser revivido em momentos que só a memória dos travesseiros poderia traduzir. És parte das coisas de dentro. 

( era só para te contar que sonhei contigo e, que foi um sonho bonito.  ) 





domingo, 12 de janeiro de 2014

Deixa-me estar

Estar aqui
Quieta

Estar aqui
Longe

Estar aqui
Junto a delicadeza do que guardei em um livro

Estar aqui 
Dentro 

Estar aqui
É onde sei viver, onde não preciso de calçados e nem de anéis.

Estar aqui é o que me basta. Por hoje só. Por certo estranha e por algum tempo sem atravessar pontes.

( em casa, sem querer mudar a casa de lugar )