Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sem sentir



A cidade assim logo cedo, sem luz. Uma névoa. O frio que não vem só de fora chega, e se aloja depois dos ossos. Os passos, nem sempre firmes, não encontram a luz. Esticar a mão e tentar tocar o céu não é o bastante aqui nesse lugar. Espíritos de mentes fracas e corpos cansados chegam aos poucos. E a falta de certa sentimentalidade fere-me. O mundo comum vestido de hoje também fere. Escolhi o casaco errado, impróprio para dias que grudam na pele, mesmo com camadas extras de roupa ainda sinto. Não quero sentir, por isso o casaco. Acabo nem vendo as respostas, assim como nunca encontro as chaves. Tudo perde-se. E nada é branco. Certas cores não combinam com tudo isso. Uma ausência. Talvez a chuva devesse lavar e afogar o rio que envelheceu debaixo da mesma ponte que me acusa cada nova manhã. Leve o dia contigo, afaste-o. Deixe uma carta.






Um comentário:

Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.