Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da chegada


Quando o amor chegar, ele vai te reconhecer pelo coração, nem vai perceber se não estiver  maquiada ou sem o melhor vestido, ele vai te achar linda assim do teu jeitinho mesmo!!! Só veste sempre teu olho do brilho mais lindo e teu melhor sorriso, o resto o amor sabe como fazer...

Encontros


Ouvi chamar, subia a escada e uma brisa suave chegou, era ele. De uma beleza que deixa o coração sorrindo... segurou minha mão, levitava alguns palmos do chão e no céu o arco-íris. Corremos para igreja e subindo a escada, segurou meu rosto com mãos de perfume silencioso, aproximou-se e pude sentir seu coração, abri os olhos e não havia mais ninguém ali comigo. Da certeza que restou: Anjos são doces...

Heresia


O delicado cabelo quase totalmente branco estava preso em um coque, com grampos dourados, tinha perfume de flores com açúcar mascavo. Sobre o vestido floral uma manta branca de croche macio, uma meia de lã  e um sapato forrado bege.
Tricotava uma meia  colorida. Ao lado, mais no canto da sala, a pequena menina brincava com uma boneca de pano e prestava atenção nas mãos ageis da senhora na cadeira de balanço, havia uma sintonia entre elas, uma comunicação diferente, algo meio de olhar e um pouco até telepático. Em algum momento antes de escurecer a senhora chamou a menina: - senta aqui mais perto um pouquinho!; Sem responder nada, a menina aproximou-se e ficou agachada ao lado da cadeira, colocou os braços descansando no colo da senhora e a fitava com interesse que só as crianças conseguem manter. Com a voz mais doce possivel ela lhe falou: - Preciso que você preste muita atenção no que vou lhe dizer agora; precisamos combinar algumas coisas antes de eu partir. A menina apenas olhava, mas agora sua expressão mudara, estava levemente surpresa e peguntou: - Você vai viajar? Para onde?; - Então querida, é sobre isso que preciso lhe contar. - Vou para onde as pessoas que já viram muita coisa vão, preciso dormir um pouco, penso em ir morar em uma nuvem. - Vovó, fui que fiz algo errado? A senhora fica muito cansada de ter que cuidar de mim? - Não me doce anjo, claro que não. Eu apenas preciso ir porque é chegada minha hora. De maneira alguma quero que você fique triste. Quero que você apenas me prometa uma coisa muito importante. Promete? - Claro vovó, claro que prometo; pode me pedir qualquer coisa, vou fazer bem certinho e a senhora vai ter muito orgulho de mim. - Eu confio em você. Eu vou para um lugar bom e você vai ficar aqui, eu preciso saber que  ficara bem para isso preciso que  me faça uma promessa. - Sim faço vovó! -De lá da minha nuvem eu vou cuidar de você, e vou saber quando  precisa de mim se o seu sapato for vermelho, entende? - Acho que sim, acho que entendo. A senhora quer que eu lhe mande um sinal né? Sempre que estiver com medo eu uso o sapato vermelho? É isso? Dai eu sei que a senhora vai me ajudar. Certo vovó, isso é facil de fazer. Pode ficar tranquila. -Posso tbm lhe pedir um sinal vovó? - Claro que pode criança. - Vovó, lá da nuvem, a senhora ensina a chuva falar comigo?
Para essa ultima pergunta não houve uma resposta, apenas um longo abraço, o mais longo e emocionado de todos os abraços.
Alguns dias depois a terna senhora partiu, foi morar na sua nuvem e fez lá uma manta prateada. A menina comprou um delicado sapato vermelho e aprendeu a entender a chuva. Sempre pedia para sua mãe lhe contar sobre a sua avó na cadeira de balanço, aquela do cabelo perfumado; a mãe nunca soube responder. Talvez porque a senhora da cadeira de balanço tivesse partido para nuvem exatos 12 anos antes da pequena menina nascer...

Eu sendo tu

 
" Ahhh mas te gosto tanto, que se eu dormisse tu, acordava sorrindo..."
 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Brilha


Aproveita esse dia lindo de sol e busca estrelas!!!!


Sente



O sentimento não assusta,
ele é leve de brisa
O medo sim  mora na realidade
quando corta o tempo e  serve fatias finas de vidas
que respiram sem sentir...




Cinema



     Se a ternura te assusta, faz dela nosso Tântrico e  deixa ser rotina...



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Prece


Santo Anjo Protetor das pessoas que tem medo de Corujas,
Meu Zeloso guardador
Já que a ti me confiou a caridade Divina
Livrai-nos das corujas. Amém
 
 

De algodão


Posso sentar aqui do seu lado?
Pode.
Quantos anos você tem?
Sou pequena ainda.
O que você olha tanto?
Aquela nuvem, vê?
Sim, o quem tem ela?
Quero morar lá.
Morar na nuvem?
Sim!
E como vai ser?
Uma casa linda!
Tem porta?
Não, só janelas e um gato dourado.
Como é gato dourado?
Ele é amarelo que brilha, e tem uma joaninha vermelha no lugar do nariz.
Por que não tem porta?
Porque eu esqueço sempre as chaves.
É bom morar numa nuvem?
Não sei ainda, não moro lá. Mas acho que é especial, como sorvete de uva, sabe?
Por que você quer morar na nuvem?
Para ver os girassóis do alto!
E como  vai  até lá?
Antes de você chegar, eu tava aqui falando com o vento.
Ele te responde?
Sim, o vento é mágico.
O que ele achou da idéia?
Estranha!
E agora, não vai ajudar?
Vai sim. Ele tem um plano!
Qual?
Falou para eu fechar os olhos.
E?
Fechar os olhos e desejar com um coração bem grande...
Você vai conseguir?
Claro, logo os girassóis estarão floridos...


Impressões


Não havia chovido, a temperatura agradava e já era tarde da noite; fugiram antes que a lua explodisse... Ele lhe contava uma história sobre princesas e suas toalhas rosas; sobre a lateral da cama um abajur dourado de toque; a textura que sentia era de uma maciez quente doce, não conseguia saber se era o cobertor ou o abraço, ambos se confundiam e a idéia de poder dormir um pouco era boa. O móvel que guardava os tesouros estava em frente a cama, alguns objetos de madeira delicadamente talhada ficavam bem no alto, à direita. Uma caixa com material para construção da casas mágicas tbm estava naquele móvel. Ela pode adormecer naquele abraço, depois de entender o significado das palavras delicadeza e compreensão. Logo cedo acordou um pouco  confusa, mas sentia-se melhor, conseguira descansar e sentia-se segura. Tomou café preto e doce, ganhou um abraço demorado que tinha  toque de cabelo molhado com perfume de madeira feliz depois da chuva; já era hora de voltar ao mundo onde as princesas não dormem e os abraços não existiriam mais... Ela poderia guardar tudo numa caixinha com laço azul, para combinar com a cortina...


Inquietação


A alma...
De força frágil,
de passos firmes e suaves
A alma, dolorida;
da dor que só cura no silencio
A alma perde a cor,
não sabe mais dançar;
não conjuga mais volatizar...
A alma pede para voltar;
quer ir para casa, sente falta de simplificar...
simplesmente não quer mais falar!
A alma adoeçe e tem sede;
não sabe como curar
só quer voltar e voltar...
Fica agora no canto do ser,
encolhida
Alma com frio, alma com medo...
não entende, só quer dormir e sonhar...


Quebrado


O Tempo te nasceu;
Te acolheu
Te ninou e te brincou
Acho que tempo te amou;
Ele te cresceu e esculpiu...
Ele te fez jovem, te descobriu
te fez maduro, te poliu;
O tempo se encantou,
ele te criou e passou...
Certa vez o tempo parou,
ele te encontrou e te apresentou
Te apresentou a mim
E o meu tempo
não me amava, ele não entendeu nada...



Teu verbo


Eu queria te degustar em verbo, em verbo doce leve...
Eu te conjugaria e te devoraria
No fim eu Doceamar-te-ia...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Recomeçar


Se algo precisa ser forte,
que seja de Amor.
Que possa ser belo
mesmo enquanto doer.


Das Traduções


Logo cedo, em algum lugar no tempo dentro de uma longa linha geográfica que se desfaz no encontro das palavras:
- querida, você é mia morosa.
- grazie amore, grazie!
- ma querida, grazie somente?
- si amore, grazie!
- querida, você entende morosa?
- si amore, morosa = namorada!
- no amore, no! Morosa = namorada com açucar! Ok?
- precisamos de uma casa;
- uma casa? Não quero uma casa somente! Preciso de um lar!
- o que é um Lar amore mio?
- Lar é quando sua casa fica doce, entende?
- Sim querida, entendo que meu lar é você!

Os flamboyants estão florescendo por toda parte. 
Não sei se é Flor em forma de poesia ou poesia em forma de flor. 
Acho que são lindezas de deixar o coração sorrir...
 
No fim o que vale é sonhar um sonho feliz e misturar com um pouquinho de vida doce, só...


Possivelmente


Tomara mesmo que na palavra Possibilidade caibam todas elas; as possíveis, as prováveis, as reais, as imagináveis e até as abstratas. Que sobre espaço para as ditas impossíveis, as improváveis e as menos reais. Mas que acima de tudo ela seja concreta, mesmo quando inexata. Que faça parte das palavras doces, verdadeiras e belas... que seja linda e simples. Apenas uma possibilidade autêntica.
 

Chegada

Um dia o amor vai chegar,
ele vai morar em você, e sem que você perceba,
vai mudar tudo... e nada mais voltará a ser
como era. O amor vai ocupar
todos os espaços... Vai mudar seu sorriso,
... Vai colocar Luz nos seus olhos... você não vai
ganhar um coração novo, vai apenas curar
o seu ... e ele se tornará território sagrado,
sua alma vai aprender a dançar...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O anjo

Enquanto essa chuva cai, deixa eu ficar mais um pouquinho...
Eu queria morar aqui... Posso?
Assim eu esqueço tudo que ficou lá fora e suas asas me aquecem...



Algo

Um dia, depois de um amanhã, eu queria te casar comigo...


Traçado invisível

Alma ínfima, falível e limitada
imperfeita, incerta e incompleta
inconstante, inacabada, indefinida.
Alma transitória e viajante...
Brinca com o incerto e o surreal.
Alma não feita de definições, insana e latente
interior ausente e pouco etérea...
Não reage, não acredita, não respira.
Na linha exagerada do abismo
Que olha e não vê o fim...

Vento

O chão começa ficar frio, sensação letárgica que antecede o pranto;
Inquietação, urgência, fuga.
A lágrima chega doce umida quente;
Lava e leva o estado lacônico de sensações.
Agora é síntese de água e sal, que limpa a dor.
Desmancha o nó e deixa respirar.
Sente, chora;
Agora pouco demora;
Logo o frio passa e só volta
Se a nuvem voa longe e a chuva demora falar...

Margaridas

Eu vou te fazer uma pulseira
Branca e delicada
De Puro amor
Oito margaridas usarei
A primeira é minha gratidão
depois uma de tua alegria
a terceira é pelos teus olhos, eles brilham
a do meio é  pura de simplicidade
uma de harmonia
Preciso de duas de sorrir, uma de contente
e outra pro teu sorriso quando é para mim
A última é porque todo amor merece pulseiras
de flores, de margaridas, de almas que dançam juntas...


Suspiro

Entre dois acontecimentos, existe um intervalo.
Entre dois instantes, por mais urgência que os acompanhe,
existe um pequeno tempo.
Existe algo respirando no mistério,
na matéria, no abstrato e no inexpressivo;
é a alma do mundo.
Ela suspira e é quando sentimos
o Silêncio...

Uma Escolha





De todos os equivocos humanos talvez o maior deles  esteja em tentar explicar, justificar ou classificar sentimentos.

É ilusório e irreal imaginar que se conseguirmos explicar o porquê, sentimos melhor. A justificativa é na verdade uma fuga, é uma tentativa de expressar algo já fadado ao fracasso. Não o fracasso temporal e mensurável, mas aquele que te fala em segredo, interiormente. Aquela voz suave que te fala antes de adormermeceres, a voz que conhece o teu íntimo.
Quando o sentimento acontece, códigos verbais são desnecessários, ocupam um espaço não disponível. Seria como prender uma borboleta em um pote de vidro.
O Sentir é uma transformação interior, uma fala oculta. É uma contribuição antes de tudo individual. Uma grande mudança no íntimo.
O mais difícil de assimilar no sentir, é o fato de que ele precisa ser independente.
A plenitude da verdade do sentimento só acontece quando ele é desvinculado de objetos ou projeções.
Se necessita de um porquê, não é real. Na verdade, pode ser real, mas em outro sentido, uma inversão.
O sentimento nasce como abstrato, precisa amadurecer no abstrato. Se ele nasce no concreto, pulam-se etapas e o ciclo não se completa.
Se  ele  não se bastar, não encontrará na figura projetiva o aporte necessário para sua maturação, fica sem base.
De qualquer maneira, toda forma de sentir leva a algum lugar, mesmo que seja apenas um engano consciente, ou uma fuga solitária...


Sobrou Falta

Bastaria a palavra doce.
O cheiro macio.
O toque feito de sussurros.
Bastaria o espaço escondido
que ficou lá no abraço solitário.
Teria sido o bastante a mão,
somente a mão segura.
O silêncio bastaria naquele instante.
E um instante a mais naquele tempo,
teria sido um sopro disfarçando-se de eternidade,
que se perdeu na  imensidão da falta,
e sobrou na tímida solidão.
O esquecimento nunca fala a verdade,
nunca retrocede,
apenas silencia na bagagem que me trouxe até aqui...


De Olhos Fechados

É um rosto desconhecido ainda
algumas feições fortes, marcantes e delicadas.
Os olhos tem uma expressão profunda, me reconhecerão,
os mesmos olhos que muitas vezes leram os mesmos versos que eu,
e tantos outros diferentes,
me mostrarão paisagens inesperadas, belas;
E os meus olhos, que guardaram um riso incontido,
nesse instante vão querer chorar.
É um querer chorar, abraçar, sentir...
O teu sorriso, anulará todo esse tempo
de distancias e faltas.
O abraço será moradia;
Um perfume com notas musicais;
Gosto de calor que congela o tempo.
Mãos de sentir urgência lentamente;
As manhas demoradas...
Um sonho doce de pêra com mel
Um restinho de sol em dia frio
O teu nome?
Meu maior poema...



Perto

Palavra dita e não entregue
tempo que se arrasta no relógio
aumenta a hora em uma semana
A busca parece perdida
o dia perde a pressa
e não sabe mais onde quer chegar
Fica perto o motivo de lembrar
e distante o acreditar
Quando o buscar só afasta
e a música vem de tão longe
parece ventar dentro de nós...



Relicário

Um sorriso - Olhar fixo - Janela aberta - Vento - Outro sorriso - Três luminárias - Um monte de livros - Um cartão - Estranho vazio - Escada rolante - Um olhar a mais - Travessura - Seis meses - Lâmpada queimada - Um beijo roubado - Doce doce doce - Um sanduíche de rúcula - Pulôver vermelho - Virose infantil - Lei de Murphy 1 - Bolinho inglês - Café - Um beijo de padaria - Avatar o filme - 45min. de atraso - Saudade - Um abraço de encaixe - Uma música - 2 agendas - 4 crianças - Um chá de amoras -
Lei de Murphy 2 - Engraçado - Uma tarde - Um beijo estalado - Alergia alergia alergia - Funghi - somatização - Gesso - Gargalhada - Café - Suco de laranja - Uma namoradeira - Uma celebração - O gerente do banco - Um livro - O único beijo que não foi roubado - uma agenda - Férias - Relógio atrasado - Flores no meio da reunião.

Alguma simplicidade faz-se encanto, ou coloca flores de cerejeiras no meio do livro e bebe café com creme de avelãs...


Lembrei

Vou deitar e pensar em ti
desenhar teu rosto no meu travesseiro
escrever uma linda carta que certamente não entregarei
descrever os planos que  fiz para nós
quando esqueci que ainda nem existimos
quando  esperei e não avisei
apenas te sonhei...
Talvez o tempo seja mesmo apenas impressão
ou não, pode ser que ele seja  muito cruel
Quando eu ficar aqui procurando teu cheiro
que eu só imagino e não sinto
sei que vou esquecer mesmo antes de conhecer
Madeira talvez?
Acho que nunca te falei
das cicatrizes que tenho
e dos planos que jurei nem mais fazer
Dos medos de tentar
sem saber se o que assusta é
o encontro ou a despedida...



Manuscrito

Da primeira impressão: a emoção na voz
o toque: somente uma mão
da textura: suave
o sinal: arco baleno
a surpresa: o cenário
dos sons: silêncio de outro idioma
magia: as luzes
cores: branco, azul e verde; nessa exata ordem
do cheiro: doce colorido
temperatura: 37,5º internos e mãos geladas
altitude: dois palmos do chão
o presente: lindo, embora desnecessário
do outro presente: a compreensão
do tempo: a maior falta
da distância: o aprendizado
do gosto: agridoce com alecrim
a pele: em braille
dos corações: tatuados
pés: allstar verde
dos dias: ao avesso
as noites: faltou um abatjour
músicas: trilha sonora de dias bons
da partida: morar fora de casa
Sentimento: não poderia descrever, sentiu que era inexato e perfeito, porque era imenso e mesmo assim poderia caber guardado numa caixinha com laço de fita vermelha...


Tatuagens

Ela ainda era muito criança, tinha apenas oito anos; Sentada sobre algumas pedras olhava seu braço com uma certa tristeza; No seu olhar um imenso vazio se criava a partir daquela imagem, a memória de como havia conseguido a cicatriz desaparecera, ficava horas a admira-la, talvez em busca de sua resposta. Não queria ouvir de ninguém a história. Precisava achá-la em seu próprio universo. Mas o esforço era imenso e inútil, simplesmente aquele dia havia se apagado... mal compreendia que essa falta de memória a preservava de mais sofrimentos. Começou a desenhar sobre a marca, tentou fazer daquilo algo bonito. Juntou suas lembranças boas e suaves, de formas e cores, e desenhou... A partir daquele dia, começou a usar os desenhos como proteção, era como se fosse seu amuleto secreto, algo que não poderia se perder nunca e fosse só seu. Assim, todo dia, logo ao acordar, pensava em algo que lhe inspirasse proteção, algumas vezes usava o mesmo desenho repetidamente... A marca já não era mais importante, agora os contornos sobre ela tinha um significado maior. A protegiam de si mesma, esse era o segredo que nem ela poderia supor. A memória só conseguia ir até algumas horas antes do acidente e voltava dias depois. Lembrava apenas de ter dormido muito e, pensava ter acordado no céu. Olhava em sua volta e não, não estava no céu; estava em casa. De volta aquela casa em que fora criada, a casa branca, grande. Ao lado de sua cama, a cama de sua irmã. Estava vazia, onde ela estaria?? Pq não estava ali p/ lhe contar o que havia acontecido?? Estava em outro comodo, foi lhe negado a vista da irma por um longo tempo. Talvez tempo suficiente p/ que ambas se recuperassem. Ela precisaria de repouso, descansar seria bom e lhe parecia agradável. Sua irmã precisaria lutar com sua lembrança. Precisaria evitar o assunto. Fazia parte da recuperação... As meninas nunca conseguiram restaurar a cumplicidade de antes, nunca mais estiveram verdadeiramente juntas. A pequena menina, agora estava sozinha. E assim começou a reconstruir seu mundo, entre desenhos, pessoas solitárias  que não sabiam sorrir, entre histórias sobre ipês e ursos cor de caramelo que usavam lenços no pescoço...  E no seu outro braço sempre usava  uma fitinha vermelha.

Sobre perfumes, cores e estações

Eles planejavam casar naquele inicio de primavera, seriam apenas eles três; ela, ele e um plátano como testemunha, em uma cerimônia simbólica, quase lúdica, serviria apenas como parte daquele doce encantamento.
Tudo acontecera como num romance antigo, daqueles de príncipes e princesas, cheio de aventuras e fantasias... Era disso que aquela história se alimentava, de fantasias e planos futuros, um futuro distante e de certa forma duvidoso.
Foram tantas as horas planejando detalhes daquela que seria uma linda vida, uma vida simples, bela e esperada, céus, como cada segundo daquela vida era esperado... passaram o incio do outono juntos e o inverno havia chegado, estava quase no fim e a primavera se aproximava.
Com a proximidade dos dias mais claros, mais longos, mais luz e mais sensações; O surgimento de sensações até então guardadas talvez,  não eram de todo desconhecidas, não eram novas, apenas ressurgiam em momentos inesperados, causando as vezes alegria, as vezes espanto... E como estória sonhada, distante da realidade, estória nunca antes vivida e completamente sem precedentes, era bela porque a alimentavam do que poderia ser mais doce, do doce que era guardado a tempos em potes especiais... A alimentaram com juras de amor eterno, com promessas, carinhos, com sonhos, palavras de ternura, com extrema gentileza e com um afeto nunca antes visto.
Mas acho que faltou algo, e num dia frio, um daqueles longos e cinzas dias de inverno, o que faltou ser tomou forma... Forma de algo real, concreto, e num sobressalto ela foi acordada de toda aquela fantasia e trazida ao mundo real,  aquele mundo havia mudado...
Logo ela que sempre desejou viver num mundo bem distante desse, agora estava maravilhada com o espectro de cores a sua frente. Os perfumes chegaram também, estavam leves a dançar no ar e não precisavam mais ser resgatados quase que em desespero no mais profundo da sua memórias.
Agora ela podia sentir, e como ela gostava de sentir... Como ela se sentiu viver novamente... começava ser apresentada ao mundo real, voltaria a ele. O mundo da fantasia, as vezes, queria seu lugar de volta, ela começou a viver dividida entre os dois mundos e precisaria escolher logo... a primavera logo chegaria...

Ser Sonho


Parece-me que se tivesse que escolher um presente, eu escolheria dividir o sonho, sim sonhar com a pessoa que deveria ser presenteada. Inclui-la no meu universo, aquele particular e finito. Seria como uma devoção, amar e sonhar, transportar, volatizar, como se tivesse aprendido a usar a quântica... Esse seria realmente um presente fabuloso, seria como misturar as essências de almas, seria mais que amor... Sonhar por alguém é como dividir o abraço do seu anjo, é deixar esse alguém sentar na sua nuvem ( aquela que tem forro prateado e te leva aos mais encantadores lugares ). Teria que ter uma porção gigante de coragem para pegar na mão de alguém, e como saber quem é esse alguém? como será que se reconhece quem pode entrar no teu sonho sem bagunçar ele todinho ou sem você bagunçar o sonho de antes, ou o sonho do outro? Como seriam os olhos desse alguém? será que ele simplesmente sentaria do meu lado, na minha nuvem ou teria sua própria nuvem e apenas me acompanharia? e se ele preferisse um arco-iris a uma nuvem? Acho que o que faz os sonhos terem esse cheiro de céu, essa doçura toda é simplesmente o fato de serem apenas sonhos... E estarem bem distantes daqui... E podem ficar mais doces quando não tem pretensão de realidade, quando ser sonho por si só é sublime. Se eu tivesse que escolher um presente, queria ser sonho de alguém...

domingo, 23 de outubro de 2011

Uma Flor

Prometo te vestir das tuas palavras favoritas
Hoje e todos os dias juntos talvez não seja perto o suficiente
Uma flor especial, branco e uma promessa...
E quando a música cessar, eu canto até que tu durmas
Diga-me apenas que Sim...