Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A.D.O.R.M.E.C.E.R




Durma bem, meu bem.
( E me avise quando for hora de retirar essa vírgula. )
Durma bem meu bem.
( E me avise quando for hora de acrescentar reticências.)
Durma bem meu bem...
( E me avise quando for hora de retirar os parênteses.)

Apenas durma bem meu bem.


Que não se acabe aqui


Aqui
Trabalhando 
por dias
mais bonitos.
Colocando flores 
no centro 
da mesa.

Aqui
Querendo 
um tempo mais
Leve.
Buscando 
Outro Norte
sem mapa.

Aqui
Ouvindo
outras músicas
novos sons.
Experimentando 
sabores puros
Autênticos.

Aqui
Escrevendo
um futuro
que não se demora.
Sonhando
um presente
Plural.



domingo, 28 de dezembro de 2014

Delicate





Guardei algumas respostas
Para o caso de achar as perguntas certas.

Por enquanto permaneço no encantamento do Silêncio
habitando-me, 
preenchendo o espaço das perguntas
que ainda não ouso pronunciar.


Irreticência





Aqui, vez ou outra te acaricio, com os olhos.
Em silêncio te sei com uma certeza que não conhecia.




Love story - Eric Segal


Que se pode dizer de uma moça de vinte e cinco anos que morreu?
Que era bela. E brilhante. Que gostava de Mozart e Bach. E dos Beatles. E de mim. Um dia quando ela me ligou especificamente a esses tipos musicais, perguntei-lhe em que ordem gostava de nós, ela me respondeu sorrindo: " Alfabética ". Na ocasião, sorri também. Hoje fico a pensar nisso sem saber se ela me relacionava pelo nome de batismo - nesse caso, eu viria depois de Mozart - ou pelo sobrenome, e, assim sendo, o meu lugar seria entre Bach e os Beatles. De qualquer maneira, eu não estava em primeiro lugar, o que, pela mais idiota das razões, me aborreceu, pois eu crescera com a ideia de que tinha de ser sempre o primeiro. Herança de família, sabem como é?
(...)

Estava fazendo muito frio, e isso de certo modo era bom, porque eu estava tão entorpecido que precisava sentir alguma coisa. Meu pai continuou a falar comigo e eu continuei parado, deixando que o vento frio me batesse no rosto.
- Logo que soube, vim no meu carro.
Eu tinha esquecido o sobretudo e o vento frio me fazia doer o corpo. Isso era bom... Bom.
- Oliver - disse meu pai ansiosamente -, quero ajudar.
- Jenny está morta...
- Sinto muito... - disse ele num murmúrio atônito.
Sem saber por quê, repeti o que havia aprendido desde muito tempo com a bela mulher que acabava de morrer.
- Amar é jamais ter de pedir perdão.

Fiz então o que nunca tinha feito na presença e muito menos nos braços dele. Chorei.


Um clichê clássico. Diriam os entendidos que é quase cafona. Gosto dele não pela literatura em si, e hoje também não mais tanto pela história, mas há algo de muito belo no meio dessas páginas já tão amareladas e com um cheiro forte de livro bem antigo. Um belo triste sim, bonito pela simplicidade com que trata o Amor. Esse romance publicado em 1970 vendeu mais de vinte milhões de cópias e foi transformado em filme, não acredito em comparações de artes tão distintas, mas esse é o único caso em que gostei mais do filme do que do livro. Cada qual com seu charme.

Não faço ideia de porque lembrei desse livro hoje, talvez porque seja um domingo chuvoso e eu ouvi Bach, ou porque um amigo falou em programas antigos na televisão e  lembrei de filmes que passavam na sessão da tarde. Enfim foi bom lembrar, cheirar e escrever sobre os Amores que nascem, que morrem e que vivem dentro de nós, estejam eles onde estiverem que estejam bem.

( para ler em um domingo qualquer de chuva, ouvindo Air - de Bach - aus Ouvertüre N° 3 )



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sobre panetones, selfies e farofa


 Sempre que dezembro chega por aqui, traz consigo um saco cheio de animosidades. O Amor é negociado como moeda de troca, e no mercado de hoje parecemos tão pobres, carentes e necessitados. A palavra da moda é Ostentação e a felicidade banalizada em selfies cada vez mais ensaiadas onde o verdadeiro eu quase sempre fica oculto. Dezembro só nos permite felicidade, mesmo que apenas para ser exibida de maneira tão irreal, são apenas sorrisos forçados de um bando de gente que corre apressada e sem paciência para conseguir o melhor presente, o maior peru, o espumante mais gelado e o panetone mais recheado. Para que? Se nessas festas o presente nunca será bom o bastante, o tempero do peru nunca estará ao agrado de todos e o panetone coitado sempre sobra. Quem tem fome de verdade não tem festa alguma para ir.

 Papai Noel, se estiveres ouvindo traga um pouco de coerência. Ho Ho Ho

Os mais otimistas, os sempre alegres dirão que isso pareceu Amargo. E amargo é querer que tudo isso acabe logo, e que logo passem também as festas de ano novo, porque as benção da crença de que tudo será perfeito no ano que se inicia também não caíram sobre mim. Quero logo que chegue a nova estação e que folhas secas e amareladas cubram o chão, para que eu finalmente acredite que a vida voltou ao seu leito normal. E que esses que emanam essa aura de urgência em ser feliz agora sejam engolidos por toda essa loucura que paira no ar quente de seu sorridente dezembro.

Eu quero abraços sinceros independente de datas, quero sempre que puder, dar um presente bonito a alguém, qualquer dia do ano, pelo simples fato de estar feliz de verdade, ou pelo desejo genuíno de querer despertar um sorriso no rosto de um ser querido. Quero estender uma toalha bonita na mesa pela gratidão de uma vida simples. Quero que queiram estar comigo, na desobrigação de qualquer data maior do que o desejo de estar na presença de outrem. Não quero ter um roteiro ou um protocolo a seguir. 

Que as crianças entendam que Papai Noel é só a representação de um Amor que pode existir durante um ano inteiro. Um desejo de Natal diário e contínuo, uma fonte inesgotável de pequenos gestos. Uma rotina de gratidão e renovação, porque perdão também acontece ao acaso, mesmo que não tenhamos participado da ceia. 

 Eu creio na fidelidade consigo mesmo. Da mesmo forma que quero que para mim tudo isso acabe logo, desejei sempre que a verdade de cada um seja sempre bonita e respeitada, se for importante exteriorizar, que se faça. Se a comemoração é indispensável, que cada qual saiba o que mais lhe agrada na sua farofa. Mas que me seja permitido não participar.

De resto, só acho que panetone combina muito mais com café quente no inverno.



domingo, 21 de dezembro de 2014

Olha só






E no prezado momento:

- Vontade de olhar para fora.
- O que te impede?
- O medo.
- Ele é tão maior que tua vontade?
- Parece que não.

( e faço o que com todos esses serás que ficam pulando na minha cabeça como grilos de três patas? )