Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

terça-feira, 30 de abril de 2013

O instante mudo


Vivemos uma miragem de futuro
Agora o assombro de um quase passado
Do que ainda não passou
A pausa no tempo de ser plural
O acaso longe das mãos





Pra ti que espera paredes



De todos os mundos possíveis quero estar contigo onde nos molhamos!



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Qual é a tua Obra?


Qual é a tua Obra - Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética de Mario Sergio Cortella, bem, com esse título confesso que não é exatamente o tipo de livro que eu compraria assim sem motivo. Mas engraçado como as coisas acontecem. Vi em uma postagem de uma rede social e acabei me interessando ( e muito ) pela leitura, passados alguns dia eis que surge o livro em um sebo virtual,  (era para mim )... Porque acredito que os livros escolhem seus donos.

O fragmento:

" Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos pertencente a uma única espécie, entre outras 3 milhões de espécies classificadas, que vive em um planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrela que compõe uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis que vai desaparecer." 



Um livro para ler quando estiveres te sentindo acomodado.



terça-feira, 23 de abril de 2013

O Lustre de Clarice Lispector


O Lustre de Clarice Lispector, vai estar sempre entre os melhores livros que li; não saberei escrever algo sobre ele, apenas que é de uma intensidade ímpar, denso e surpreendente. Sublinhei a maior parte de vários capítulos, reli incontáveis vezes; é tão marcante em seu universo de detalhes que uma única leitura nem sempre é o suficiente. Foram necessários quatro meses para concluir a leitura, não que o livro seja extenso, mas não conseguia ler sem parar um pouco para assimilar a grandeza daqueles escritos e voltar para reler, como se fosse preciso mais atenção para entender a subjetividade da história. 

É imensurável minha admiração por Clarice.






segunda-feira, 22 de abril de 2013

Quando a pele sente uma véspera


O arrepio chegou pela mão, passando pelo braço afastou os pelos, foi embora pelas costas em um instante de pressa. Acontecia à minha direita. Um sinal. Presságios assim leem a carne sem deixar rastro. Um silêncio frio. Vento gelado que rasteja narrando um tempo que está por vir. Uma véspera. Um descuido do invisível que deixou-se sentir. Sinestesia.


Amor fora de Hora, um romance


E entre um livro de assunto sério e outro, é sempre bom uma pausa para uma leitura descomprometida e gostosa. Pelo menos é assim que acontece comigo, enquanto leio um livro mais complexo, leio outro um pouco mas leve, parece que encontro um equilíbrio assim.

Amor fora de hora é exatamente esse tipo de livro, leve, divertido, inteligente, bem humorado, um romance delicado, daqueles que nos fazem sorrir ao final de cada capítulo.

É a história de uma bibliotecária viúva, elegante,  jovem e muito culta que apaixona-se por um fazendeiro daqueles bem broncos, rústico, que não gosta da vida na cidade e nem entende nada de literatura. Juntos tecem um romance pontuado de situações hilárias e bastante reais.

O cenário do encontro não poderia ser mais inusitado, o cemitério, onde estão enterrados o marido de Desirré e a mãe de Benny. Não é um romance comum, Um choque de culturas, um amor terno e espontâneo. Digamos que seja bastante agitado. 

Literatura Sueca moderna da melhor qualidade. A autora Katarina Mazetti já foi professora, jornalista e radialista, é autora de 20 livros e Amor fora de Hora é seu aclamado sucesso internacional. Traduzido para 28 idiomas, filmado na França e se tornou musical.

Um livro para ler em um final de semana de verão.



Fragmentos:

"  Tiro minha agenda do bolso. É um caderninho azul com encadernação firme e sobre o qual, no lado da frente, há uma ilustração de um barco a vela sobre um mar reluzente. E ai então escrevo:
  -Com certeza as bordas das feridas lutam para se fechar, até o relógio quer que lhe deem corda...
  Na verdade, eu não acredito que estou fazendo " poesia" em minha agenda. Estou apenas tentando apanhar a vida em imagens. Faço isso todo dia, mais ou menos assim como outras pessoas escrevem listas de tarefas para organizar o dia a dia. Ninguém precisa ler isso um dia - eu também não conto às pessoas sobre os meus sonhos. Cada um tem seu próprio método para dominar a vida. "

"  Naquele outono, li autobiografias e livros de fantasia que, na melhor da hipóteses, tinham um efeito anestésico - como se eu mergulhasse em mundos desconhecidos. E quando, de repente, os livros chegaram ao fim, fiquei deitada cansada e trêmula no canto do sofá, como depois de um naufrágio jogada na margem, à beira-mar. As biografias e os mundos de fantasia me faziam perguntas: Por que você está viva, o que faz da sua vida, tão frágil, incontrolável e curta? "

" A vida ficou muito pequena para mim. Eu poderia ter uma nova. Não faz mal que se for de segunda mão."

" Remendar bolhas de sabão arrebentadas e fazer bonecas sorrirem pode levar algum tempo."












e naquela folha branca pariu uma carta que não era para ser lida.



domingo, 21 de abril de 2013

Diário de uma bipolar


Comprei esse livro em um sebo virtual. Acho um assunto interessantíssimo e muito atual. Em tempos de moda, inclusive comportamental, a bipolaridade já esteve um pouco mais em voga do que agora, e mesmo assim continua sendo considerado " chique " ser bipolar. ( coisa de estigma ou a mais completa falta de informação).

Cineastas como Coppola, Tim Burton e Lars Von Trier, os atores Elisabeth Taylor e Jim Carrey, e os cantores e compositores Tom Waits, Robbie Williams e Axl Rose sofrem de trastorno afetivo bipolar. Salvador Dali , Marilyn Monroe e Elvis Presley também eram bipolares, mas em sua época, a doença era equivocadamente chamada de psicose maníaco-depressiva. A atriz Carrie Fisher - a princesa Leia de Guerra nas Estrelas - escreveu um livro sobre o assunto, The Best Awful, onde relata suas vivências. 

Mas enfim sobre o livro: 

Mariana W. faz um relato muitas vezes bem humorado sobre sua relação com a patologia, conta em detalhes como a doença a influenciou durante muitos anos até encontrar o equilíbrio. Em uma narrativa sincera e carregada de autenticidade leva o leitor a conhecer um pouco mais desse universo entre a fase da mania e da depressão profunda.

Mariana relata que sofreu muito até aceitar sua condição. Perdeu convívio com pessoas amigas, prejudicou a educação de seus filhos, passava muito tempo ausente. Tudo isso alternado com períodos em que simplesmente não podia levantar da cama. Uma vida completamente dominada pela doença.

Pedro Bial escreveu um texto sobre o livro, o título é uma Dor inominável, ele cita:

" Quando alguém tem uma gripe, uma dor de barriga, uma costela quebrada, não há dúvida: procura-se um médico, toma-se aspirina, vitamina c, purgante, busca-se o conforto dos mais próximos. Os males da alma, as afecções mentais, não - através dos tempos. foram matéria para varrer para debaixo da trama neurótica familiar. Só hoje, no alvorecer do século XXI, o preconceito, o obscurantismo e a ignorância começam a perder terreno para a luz e a tolerância. Graças a livros como este, que aborda de maneira honesta e acessível a questão do parecer psíquico, da tortura emocional. "

Mesmo com a seriedade do tema, não é um livro triste e muito menos uma leitura " parada". Um livro para ler em poucos dias.




Orvalhadas





E se não Deus, quem é que vem regar essas flores nas madrugadas?
Que será que ele pensa enquanto as embala em um sonho de chuva?





sábado, 20 de abril de 2013

Envelope Azul

Estava com saudades de escrever sobre os livros que li, e casualmente nesse período que fiquei sem escrever li muitos.

Em uma quinta-feira comum recebo inesperadamente um envelope grande, azul, bonito. Era metade da manhã e dentro do envelope estava uma edição incrível de Olhai os Lírios do Campo. Uma edição especial de 73. Adquirido em um sebo, não tem dedicatória, mas havia tanto carinho naquele presente que entrou automaticamente na lista de coisas mais bonitas.

Presente de um grande amigo que está morando em Santa Catarina. Gaúcho, gentil, culto, inteligente, sensível e gremista. Grande entendedor de músicas e cozinheiro. E com um gosto impecável para presentes.

Sobre o livro: Muito já foi escrito e resenhado sobre ele, enfim eu apenas acrescentaria: Não deixe de ler Veríssimo.



Um dos trechos de que mais gosto de uma das cartas escritas por Olívia:

" Procurar nossa felicidade através da felicidade dos outros - aconselhava Olívia noutra carta sem data - Não estou pregando o ascetismo, a santidade, não estou elogiando o puro espírito de sacrifício e renúncia. Tudo isso seria inumano, significaria ainda uma fuga da vida. Mas o que procuro, o que desejo é segurar a vida pelos ombros e estreitá-la contra o peito, beijá-la na face. Vida, entretanto, não é o ambiente em que te achas. As maneiras estudadas, frases convencionais, excesso de conforto, os perfumes caros e a preocupação de dinheiro são apenas uma péssima contrafração da vida. Buscar a poesia da vida fora da vida será coisa que tenha nexo? "

Outras passagens bonitas:

"- E agora? - perguntou Eugênio.
Olívia encolheu os ombros.
- A vida continua.
- Eu sei... Mas é nós? 
- Continuamos também."

" - Há dias inesquecíveis na vida da gente. "

" Aquela noite era um mundo, aquela noite era uma eternidade, ele nunca, nunca mais teria de esquecê-la."

" - Pouco ou muito açúcar?
- Assim está bem. 
Ela lhe passou a xícara.
- Biscoito?
- Obrigado.
Serviu-se.
- Está bom?
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente e logo após perguntou:
- Pode-se molhar o biscoito no chá?
- E lamber os dedos se quiseres."

" - Olívia, tu... tu me amavas?
- Cego! "

O trecho final da última carta escrita: 

" Antes que me esqueça, na gaveta da cômoda há um maço de cartas que te escrevi de Nova Itália expressamente " para não te mandar". Agora podes lê-las todas. Não encontrarás nada do meu passado, do qual nunca te falei e sobre o qual tiveste a delicadeza de não fazer perguntas. É uma pena. Gostaria que soubesses tudo, que visses como minha vida já foi feia e escura e como lutei e sofri para encontrar a tranquilidade, a paz de Deus.
  Adeus. Sempre aborreci as cartas de romance que terminavam de modo patético. Mas permite que eu escreva.
                                                                               Tua para a eternidade.
                                                                                                                          Olívia."

Quando Carlos Alberto Iannone escreve sobre a obra de Veríssimo fala: Olhai os Lírios do Campo é uma história " de ternura e compreensão humana através do amor ". Ele tem razão.







Sentes?




Um sentir 
ou 
  Um pulsar?




quarta-feira, 3 de abril de 2013

De quando as folhas são tapete


Eu nunca te contei, mas em uma manhã de outono eu te casei comigo,
éramos eu e tu e um plátano. Simples e brancos.
Tiramos os sapatos, o chão era feito de um futuro bonito.

( ainda é outono, e as manhãs são possibilidades, mesmo que tu não saibas! )





segunda-feira, 1 de abril de 2013

Do que já não alimentamos o amor





 ( Para mim )

                                                         
                                                        ( Para ti que não gosta dos figos )


( Para nós quando escrevíamos sobre as manhãs de domingo )