Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sábado, 31 de dezembro de 2011

brisa



Queria achar um barco vazio
E com ele me perder no azul
De mar e de céu
De paz...



Resgatando o tempo



Sempre haverá tempo
E sem os medos
Sem sombras
Completo
Com planos de frente
Acreditando

Às vezes olhando de muito perto
É impossível ver direito
Mas mesmo assim
Quero o inteiro
Com tudo o que vier junto
Com todos os atrevimentos
Tudo o que couber no peito
Durante o tempo que durar o hoje...










quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Descalço


Eu não te sei
Te sinto
Teu caminhar é leve
E não posso te tocar
Ainda assim te sinto
De passos firmes
Alegria incontida
Alma inquieta
Eu te sei
É isso que sinto...

Questão de estilo


Se eu fosse historiadora poderia citar o Bra-Burning de 1968 exemplificando o inicio do meu ensaio sobre a perda da identidade do feminismo. Na verdade ele deveria ser usado como marco inicial do raciocínio, seguido do pós revolução francesa em meados do século XIX. Então graças a eu não ser uma historiadora, podemos pular a bagunça inicial e partir para importância da calça saruel nesse universo.

Dia desses estava sentada ao lado de um colega, quando passou uma mulher de calça saruel preta, botas e um casaquinho básico, com uma camiseta cinza. Era uma mulher de personalidade bastante forte e uma segurança admirável. O que me espanta é o comentário masculino: Que tipo de calça é esse, não destaca a forma feminina? Parece uma grande fralda. 

Os homens foram educados por mulheres, que os ensinaram que o corpo feminino é recurso visual, é para ser " admirado". E nós mulheres nos usamos disso como ferramenta de sedução. E no fim existe um grande equivoco de ambas as partes.

Em tempos de peitos siliconados e calças absurdamente justas, não seria surpresa que uma saruel causasse espanto. O que deixa-se de perceber é que para uma mulher, abrir mão " desse recurso" e sair na rua, segura de si e completamente à vontade, vestindo algo confortável e que não " marque seus contornos", é a mais perfeita forma de exemplificação de feminismo autêntico. É uma questão de libertação, de gosto e estilo também claro. Mas é bom saber que depois do modismo, depois de passada a febre de estar antenada, surge algo que sinalize na direção da evolução de uma  luta inciada a muito tempo, lá na história do início do texto, onde mulheres lutavam pelo direito à uma autonomia original. 

Autonomia essa que lhe permite construir uma personalidade independente, desvinculada de espectadores, quando não precisa de aprovação visual somente. Quando consegue essa construção com aportes realmente concretos, algo que vai além da matéria.

Talvez me acusem novamente de ser pouco feminina, e talvez esse texto seja somente para que eu lembre que  isso deixou de ter importância antes da saruel sair de moda e eu ainda continuar usando e admirando quem ainda a use, independente de gênero...











terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tu



E mesmo que eu não esteja contigo, tu estás comigo
Porque algo de ti é meu
Do muito teu que ficou em mim.
Isso torna a chuva perfeita
Quando,  na tua ausência
Não sinto tua falta...


                    ( se for permitido mentir que seja agora )



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Somente


Busca-me o momento para ir embora
Mas não vá
Fique aqui... Não há tempo para explicar
Apenas fique
Eu queria poder falar
São coisas importantes
Mas serão apenas palavras
E podemos sentir
Podemos guardar o momento
Sempre será agora
Sempre teremos mil coisas a fazer
Sempre será tarde
Mas podemos ficar e dizer ao Depois que agora não...?!

(...)

(..

Todos esses dezembros já é tempo demais
Sempre é muito tarde
Sempre é solitário
É um tempo que não explica
Um tempo longo demais
Um nunca dentro de um para sempre
Mergulhar
Respirar
Voltar
           Sentir...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pontes




Naquele momento o necessário era reunir forças e explicar o porque ter que  IR

e tudo que eu queria ouvir era o porque FICAR!!!




terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Abdução


Viver a vida assim sob uma perspectiva de expectador é estranho. Amanhecer quando nem se dormiu, e ter que imaginar quem será que esteve com meu sono? Quem vive minha vida verdade? Onde estou eu nesse momento, quando não estou aqui? Quem está no meu lugar? E quem é essa que diz ser eu, e eu na verdade nem à reconheço?
Onde acontece a fragmentação da vida? Do nosso tempo? Onde acontece a perda do caminho? Onde ocorre a substituição?
O que é feito do amor quando não consegue entrar nesse coração? Quem fica com a parcela de amor que era minha? E os sentidos que não encontro, quem fica com eles?
Quem sorri disso tudo que não acho graça?
Eu poderia ser qualquer um, poderia ser todo ou nenhum alguém. Poderia ter coração e não dor. Poderia ter vida e não espectro. Poderia ter coragem e não cansaço. Poderia ter encontrado a razão de parte de um todo.
Quem encontra tudo isso que procuro? Quem me rouba assim dessa maneira? E quem é esse eu que permite isso? De onde vem e para onde vai? Quem fica com todos os abraços que eram meus? Onde foi parar a coerência? Quando partiu? Porque não viu? Onde estava?
E se fosse uma neurose?  Seria uma salvação, teria cura... Mas não é, não vem de dentro, e muito menos de fora, nunca esteve em mim, nunca estive em mim. Não seria tratável, seria penas resgate...


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Onde


E eu nem poderia falar de amor, nada sei sobre ele.
Imagino ser algo para os fortes.
Forte suficiente para admitir suas fraquezas.
Forte para aceitar ser derrotado vez ou outra.
Forte para chorar.
Forte para esquecer.
Forte para quando tiver que lembrar.
Uma vez eu o vi.
Ele esteve na minha frente...( Mas é preciso algo além da força )

                                      E o que será que acontece com o amor que fica?



Do incompreensível


Da certeza
                     de que esperar vale a pena
Do desejo
                      apenas o encontro
Do futuro
                      dentro do imaginável
Do passado 
                       um tempo de aprender
Do agora
                       único tempo palpável
Do que sobrou
                        já foi
Do que falta
                      Sempre você...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

E se?


E se uma única pessoa soubesse de uma mania sua,
que você mesmo nunca havia reparado?
E se essa mesma pessoa lhe desse um beijo em um dia especial?

                          Como poderia ser?



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

caminhos


Certa vez um homem me contou
Que todos os pássaros buscam alcançar o céu
Que as borboletas são fascinadas pela luz
Que viu uma montanha apaixonada pela nuvem
E a flor vermelha que amava o beija flor

Depois de um longo silêncio, me falou
Que agora não tinha mais segredos
E que precisava partir, sua bagagem estava leve...
             
                    Seguiu pela estradinha com passos seguros e não olhou para trás... Parecia feliz!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011





Precisaremos mergulhar no mais fundo da Complexidade para começarmos a perceber a verdadeira Simplicidade da Vida!!





segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

                                         

E quando não houverem palavras...

Seguraremos um a mão do outro;
O sorriso pode falar também;
Se for lágrima, terá um carinho enxugando-a;
E o ombro será apoio;

                                            O amor vai acontecer no silêncio dos olhos...




(...)
 E eu só queria me ver nos seus olhos...

Do amanhã


Do que me prometestes quero apenas:

- todos os sorrisos;
- os abraços;
- os passeios de mãos dadas
- os poemas;
- o queijo derretido no pão de alecrim...

     O resto das promessas a gente vê depois, quando o sol estiver bem alto já, e o dia andar apressado. Caberá mais um monte de promessas no meio de todos momentos que guardarei... O futuro que eu escrevi para nós é cheio de hojes...

Da pressa



Não preciso da urgência de chegar à lugar algum
Quero somente por hoje     
                                            Viver!!


Abstrair-se




Quero somente querer cada vez menos....



cúmplices


Se tu me conheces tanto,
Se consegues me sentir dessa maneira
                               Deixa eu tentar me encontrar em ti...


Céu


Deixa sair o sol,
Perde-te nos sonhos de hoje...


sábado, 3 de dezembro de 2011

Por sentir


Palavras deixam de ser palavras, quando provocam sensações.
Tornam-se Sentido e ganham contornos.
Palavras em linguagem corporal merecem ser respiradas...
                                                                                       Tocadas e experimentadas
Palavras Sagradas...


Visão micro do macro


O mundo que realmente importa muito provavelmente não se estende além da cerca do seu jardim...


Ex marido não é nada meu!!!


  Uma separação,  sempre vem com bagagens enormes, passa longe de ser fato banal. Mesmo quando se deseja tal acontecimento, somente acontece por inteiro de maneira gradual,  é um processo que só se completa  à longo prazo. Acontece por etapas.
  Comigo aconteceu de maneira mais lenta que o comum, imagino. Meu raciocínio demora para se processar. E da idéia até a ação é um caminho relativamente longo, em se tratando de relacionamentos não acredito em reticências, somente ponto final.
  De um longo relacionamento, que cumpriu todas as formalidades e me trouxe o mais importante que tenho na vida hoje, meus filhos, na teoria não poderia terminar de maneira tempestiva. Na prática acontece de maneira bem diferente. O que mais me impressiona é o fato de ter demorado quase quatro anos para processar todas as etapas, até chegar a separação definitiva. ( chamo relacionamento e não casamento porque tenho uma visão totalmente diferente da Instituição Casamento, tenho muito respeito por ela, e acredito de todo meu coração que pode dar muito certo ).
  Não é culpa de ninguém a não ser minha, por nunca ter percebido a dimensão do que se apresentava. Pulei etapas e fiquei tempo demais parada em outras. Super valorizei alguns problemas e isso me fazia ter dimensionamentos equivocados.
  Observando algumas situação parecidas com a minha, de amigas ou conhecidas próximas, fiz uma listagem das etapas. É uma pequena reflexão na verdade, espero que possa ajudar algumas mulheres a saírem da zona de estagnação, e se alguns homens lerem, também será como forma de revisão de valores.( De qualquer forma espero ajudar ).

   Até chegarmos a um Ex marido inexistente passamos pelas seguintes etapas:

1º - A decisão de pedir o divórcio : etapa complicada, difícil e frustrante. Se você chegou nela,  seu relacionamento está gravemente doente ( eu não acredito em cura, nos filmes sim, na vida real não creio ser possível verdadeiramente ). Nessa etapa, desistiremos muitas vezes, perdoaremos muito e nos sentimos extremamente cruéis, com o outro e conosco também.  ( Uma etapa solitária )

2°- O pedido : No meu caso foi como se a forma infinita do universo tivesse se potencializado e voltado toda sua força contra mim ( não faço a menor idéia de como sobrevivi ). Conheço histórias um pouco mais leves ( De qualquer forma é um momento que exige muita força ).

3º- Enfrentamentos: Agora o mundo já sabe que você pediu o divórcio, hora de sair e enfrentar, se sobrar alguém do seu lado, agarre-se e aceite toda ajuda possível. ( frequentemente as pessoas do seu circulo de relacionamentos desaparecem nessa hora, a sociedade é machista sim).

4º- Formalidades judiciais: Em casos de divórcios consensuais muitas vezes a mulher abre mão de muita coisa que lhe é direito, para apresar o processo; é uma forma de buscar a libertação. Em processos litigiosos, abre-se mão para tentar acabar com o desgaste ( tentei das duas formas, e mais tarde você se arrependerá de ter aberto mão do que é seu de direito, Não Vale a Pena ). Os direitos são iguais para ambas as partes.

5º- Ajustes: Esse tempo até sair averbação de separação, é um tempo de ajustes, se tiver filhos é a hora de tentar amenizar os danos, um tempo de calmaria no meio da tempestade.

6º- Sou uma mulher livre, e agora?:  Fase estranha, muito estranha, confusa. Bastante peculiar. ( seria muito longo descrever aqui, acho desnecessário, salvo apenas o comentário: é uma fase insana!!)

7º- Correções: Nessa fase, nos damos conta de tudo que abrimos mão, de tudo que deixamos, abrimos mão e agora vamos tentar rever. Provavelmente agora surgem os processos de revisão. (  A expressão : Situação Tragicômica, passa fazer todo sentido!)

8º - Reconstrução: Algum tempo passou-se a agora podemos fazer planos futuros, olhar para o passado sem medo, recomeçar.

9º - Perceber o que incomoda: Agora, com a cabeça fria, depois de tanto suar para viver, começamos a fazer entendimentos, e algo ainda incomoda muito. O Ex marido ainda é muito presente, e não deveria ser. é como uma TPM que não passa, você sabe que tem alguma coisa estranha, mas não reconhece. ( Leva um bom tempo para entender, imagino que muitas mulheres param nessa fase, imaginando ser a última. ).

10º - Ex Marido não existe: O que incomoda é a ligação com a pessoa que não te é querida, não é bem vinda na sua meditação ou na sua roda dos pensamentos. Ex marido é algo inexistente, ele não é nada seu , não pode ser ex, tem que neutralizar essa expressão. A mente não processa a palavra não, ela só entende Marido, Marido. É exatamente isso que atrapalha.... Não é Ex Marido. No meu caso hoje, é apenas alguém que ficou em um passado distante. O Pai dos meus filhos existe sim, Ex marido nunca; não é nada meu.... é uma forma de despreendimento verbal, funciona, me dá verdadeira liberdade. Não participa de nada, não Existe. Não tem influencia sobre meu estado de espírito. Demorei quatro anos para decidir: Não tenho Ex marido. É uma questão de escolha sim, algumas coisas tem importância e outras não merecem nem ser mencionadas... Precisa ter o minimo de competencia para ser Ex alguma coisa.


***
( Ajuda é muito importante em todas as etapas, conversar com pessoas que passam pelo mesmo problema faz muito bem, hj trabalho em uma instituição de ajuda à mulheres que sofreram ou sofrem violência doméstica, se precisarem de ajuda ou informações meu e mail estará disponível sempre. O silêncio só aumenta o problema. )

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

vamos



Você não deveria nos procurar
Também não deveria acreditar quando digo.
Meu silêncio o mantem livre
Mesmo que  me aprisione
É um tempo que eu tenho
Preciso me apegar a isso
É o que não me deixa dormir
Mas quando você acordar
Ainda terá a canção.
Na multidão serei eu a olhar
Serei somente alguém
E não importará mais
porque não precisamos mais acreditar...
                                                            Somente seguir.

simetria


De onde vem isso que alguém ( no singular) tem, de saber as palavras certas e conseguir combinar com a hora certa também ( até no plural ) ?!


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lua



Então anoiteceu
Eu não vi
Eu senti
Não adormeci
Finalmente amanheceu...
                                       Revivi.


                                

Quem


 Não sou  quem escreve;
também não sou o que escrevo...
                                                   Os escritos me são...


Abstrair



Que sobre espaço apenas para essências
De gente ( as verdadeiras )
De coisas  ( as úteis ou bonitas )
De amores ( no singular )

Pouco, muito pouco.
                                     Suficiente apenas para tornar-se Sagrado...


Quero


Antes do final começar
Penso em caber nós dois em um dia inteiro...

Rabiscos


Brincar em teu corpo
Marcar como tatuagem
Vontades exauridas
Músculos exaustos
Água não tira
Esfregar não sai
Em teus braços
Repousa, pesa
E te faz gostar...



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Longe


Esse fuso horário que te leva para o futuro
É o mesmo que me deixa aqui no teu passado
Horas carregadas de distancias
Distancias de futuros e passados
Esperas cansadas
Passados de saudades
E futuros incertos...



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A idade do beijo


Beijos pré-datados? Sim, beijos envelhecem. Já nascem adolescentes. Acho que beijos nunca são crianças, ou talvez sejam sim; podem  ser como os velhos, que envelhecendo retrocedem e voltam à infância. E talvez a infância do beijo seja sua própria velhice.
  O primeiro beijo é adolescente, quase infantil. Mas amadurece muito rapidamente, um beijo jovem é cheio de expectativas. Tem necessidade de superação.
  Um beijo adulto é quando o motivo do beijo achou equilíbrio. Tem expectativas reais, precisa apenas cumprir sua função de beijo. Ele pode dar-se ao luxo até de ser um beijo no nariz, e mesmo assim ser cheio de significados. Pode ser um beijo mágico na testa, sabe exatamente o que quer dizer.
   Função de beijo é acordar os sentidos, lembrar a cinestesia, como ler ou escrever em braille. Beijo é homeopatia, é carinho, encontro, proximidade, cumplicidade, traquinagem também claro. Beijo é inicio, é celebração. Beijo adulto é bem temperado...
  Quando o beijo começa envelhecer, fica morno, sem sal. O beijo morre frio...

Cenário


Dúvidas de sempre
Casa ou apartamento?
Cidade ou campo?
Avenida ou um beco charmoso?
Frente norte, nude no living e branco na suíte...
Tantas escolhas e interrogações e eu nem penso em morar em outro lugar
que não seja capitulo de um velho livro...


Ritual



Sempre é o primeiro beijo
O primeiro beijo do dia
O primeiro beijo de café
O primeiro beijo depois do almoço
O primeiro beijo de sobremesa
O primeiro beijo para o pôr-do-sol
O primeiro beijo de happy Hour
O primeiro beijo de boa noite
O primeiro beijo para não dormir
O primeiro beijo para amar
Sempre é o primeiro beijo
Sempre é a primeira vez que te beijo...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Meu



Te sonho
                Te acordo
 Te guardo
                  Te durmo

                                 Te segredo-me....



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Desmaterializar-me...
                            Simplificar-te...
 Inspirar-se...


             


Tempo de desejar mais tempo
Tentar mudar o vento
Diminuir a distância
Entre o tempo e a voz...

inexistente


Planos trocados
Sem perguntas
Sem respostas
Caminhos opostos
Sem importância
Sem sentir
Sem querer
Sem olhar
Sem gestos
Sem procurar
Não aceitar.
Encontar apenas lugares ausentes...


domingo, 20 de novembro de 2011

Encontro


Eu preciso te encontrar e só posso fazer isso de olhos fechados.
Te sinto no silêncio de dentro, aqui fora não encontro nada...

Falta


Preciso da tua mão quando não posso dormir sozinha
quando o destino brinca com nossas vidas
quando vejo o por-do-sol
quando  começo maldizer as distâncias
quando me sinto desorientada
quando chega a fria e linda noite de inverno
quando não posso mais acreditar na poesia.

Preciso da tua mão quando os dias parecem imperfeitos
quando as manhas são silenciosas
quando as estrelas cintilam tristes
quando chega a hora de ir
quando as canções não conseguem ser doces
quando o mundo se agiganta
quando a espera torna-se incompreensível.

Preciso que segure minha mão e me leve até onde o tempo não possa nos encontrar...



Longe


Agora não tem mais tempo, ajudar  fazer a bagagem é triste, é dolorido. Cada dobra na roupa, cada vez que o perfume salta de uma peça, cada vez que o relógio lembra que é preciso ir.
  O último café, esfriou, sobrou na xícara. Mesmo doce, não tinha sabor. Feliz por lembrar de tudo. Triste pelas incertezas. Dias lindos, dias poucos. Horas rápidas demais. Tempo curto que vale por vidas.
  Lugares que passei por quase todos os dias e nunca havia visto. Foram  lugares especias. E é difícil olhar para tudo agora.
  Sobra falta de tudo que foi vivido, sobra falta de tudo que não foi vivido, sobra espaço, falta cheiros, sobra cobertor e falta o querer dormir.
  É como não ter onde ir, como querer voltar e não saber o caminho. É alguém que não vem...


Incompleto


Leve é uma manhã de domingo
Macio é fazer carinho no gato
Doce é um natal
Colorido é uma tarde no mini-mundo
Especial é um jardim com lavandas
Diferente é o cheiro que os livros tem
Amável é o abraço da minha avó
Surpresa é quando nem dá para descrever
Simples é o que fascina
Agridoce é a cura pela lágrima
Estranho é vida de adulto
Frio é parecido com drops de menta
Lindo é uma margarida branca
Inesquecível é a pele alva
Triste é não ter um unicórnio alado
Grande é imaginar os dinos maiores que um elefante grande
Sozinho é o olhar marejado de quem fica vendo partir
Metade é uma mão sozinha
Saudade é só o que resta...


sábado, 19 de novembro de 2011

Estranho


Eu jamais teria coragem de te contar quantas vezes já me surpreendi fazendo planos e te colocando neles. Eu até escolhi os sapatos, e nunca te contaria que eles seriam azuis. Eu também não poderia te contar que procuro teu cheiro em quase tudo e que adoraria te ver comendo melancia, sentado na grama em um dia de verão.
   Imagine se eu te contasse que desenho teu rosto no meu travesseiro? E  se tu soubesses que já colhi flores pra ti, só que deixei no vaso da minha mesa. E quantas cartas enormes já te escrevi, quantas mensagens, emails, poderia escrever um livro com tantas palavras. E tudo sem nunca enviar.
  Te desejei bom dia e boa noite à cada manha e à cada anoitecer, só nunca te falei e nem falarei.
  As flores que eu colhi, eram lindas, belas, doces e perfumadas. Coloquei-as no vaso. Ficou lindo, estavam comigo; eram minhas. E cada dia que passava, perdiam vitalidade, por fim murcharam. Se eu as tivesse deixado como faço contigo, elas ainda estariam lá. Ainda seriam belas e poderiam me amar por isso.
  Jamais te contarei. Nunca te murcharei. Nunca te terei. Nunca te perderei... pra sempre meu.


Refúgio

 
O sentimento é narcisista, ele se apega mais a ele mesmo do que ao seu objetivo. Estar sentindo é o que alimenta o sentimento, é meio como a relação dos gatos e os lugares. A gente acha que os gatos se apegam as pessoas, e não é verdade, eles se apegam mais aos lugares, ao seu ambiente. Funciona assim com as paixões também.
   Sem nos darmos conta, sentimos falta não da pessoa, mas do sentimento, de como nos sentimos bem ao seu lado. O cheirinho doce, a mão macia, o jeito perfumado de sorrir, todas essas coisas que nos fazem bem... nos deixam mais leve. Um simples sorrir pode modificar completamente o dia, e a falta dele também. 
   A sensação deliciosa de ouvir: " Como foi seu dia? "; Essa pergunta aparentemente simples, provoca sensações doces, nostálgicas e mágicas. É o saber que alguém te ouve, alguém  que se preocupa, alguém quer te saber. É o sentimento sendo egoísta, o sentimento sendo inocentemente irônico... 
   Os sentimentos são  manipuladores, nos fazem acostumar tanto à  esperar, que por vezes,transformamos isso em um sentimento, acabamos nos apaixonando pelas expectativas da própria espera. E pode ser belo, mesmo quando parece interminável, distante e frio.
   Esperar torna-se então um refúgio, um lugar seguro, sem riscos; um sentimento sem sentimentos...


   

O outro


Um tem os olhos azuis e o outro castanhos. Um mora longe e o outro ficou aqui. Um alimenta-se de cultura e o outro escreve banalidades. Um é o exagero e o outro busca o equilíbrio em tudo. Um é elegância e o outro pura doçura. Um fala muito forte e o outro venera o silencio. Um tem raízes profundas e o outro criou asas. Um socializa tudo e o outro é interiorização total. Um contesta sempre e o outro acha graça. Um ama o cheiro do teatro vazio e o outro guarda flores em  livros. Um racionaliza sempre e o outro é puro coração. Um estuda politica internacional e o outro conversa com anjos. Um tem sonhos materiais e o outro anda descalço. Um tem urgências e o outro busca paz interior. Um é cheio de reservas e o outro também. Um sempre sabe a direção e o outro se perde. Um dorme sempre e o outro raramente. Um tem o riso contido e o outro sorri de alma limpa.  Um é praticidade e o outro agradecimento. Um ama e o outro também. Um pensa muito e o outro age. Um vai adiante e o outro segue. Um encena e o outro ri muito. Um declama poemas clássicos e o outro se emociona. Um planeja jantares sofisticados e o outro come pêras. Um tem calor e o outro dorme de meias. Um ensina e o outro aprende. Um aprende o que o outro ensina. Um é complexo e o outro profundidade. Um coleciona Maggiolinos e o outro quer um unicórnio alado. Um sente falta do sorriso e o outro da mão. Um está longe demais do outro e o outro ainda assim sente o seu perfume...


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Certezas


Eu nunca seria um Sanduíche com mostarda. Não seria uma Sala de espera, não poderia ser Comida apimentada, picante. Não seria Wiskie e nem Vodka. Nunca seria Sushi ou Gengibre. Nunca seria uma Certeza, não consigo ter certezas em afirmações, talvez em negações seja um pouco mais fácil. A Incerteza também eu não poderia ser e nem uma Parábola. Um Telefone eu não seria e nem um Ferro de passar roupas. Um Matemático eu não queria ser e nem Professora de culinária, tampouco seria Eu mesma ou uma Cigana.

  Eu não seria uma Tarde de sol escaldante e nem uma Tempestade destruidora. Não seria uma Crise de TPM e  nem um show de malabaries, não seria uma roseira e não poderia ser um picolé de milho verde, não poderia ser uma montanha muito alta. Não seria um sapato preto triste ou uma bota branca.

 Não sou mais quem eu era ontem e nem serei a mesma de hoje amanha. Como não serei alegre todo dia e muito menos triste sempre. Eu não seria aqueles figos em calda e nem compota de abóbora.

 Não sei ser um escândalo e nem uma missa , não sou uma melancia gelada e não sou um pote de sal. Não sou qualquer preconceito e nunca um bife de carne vermelha e nem branca, definitivamente eu nunca seria uma proteína.

  Uma agenda usável eu não poderia ser e nem uma planilha de excel. Não sou nada perto de 100% e nem um zero.

 Existem coisas que eu não seria porque não gosto; Eu nunca seria um pé de salsão ou um ovo. Eu não gostaria de ser um espeto, uma vassoura ou um guarda-chuva preto. E não seria um poodle ou um dromedário e nem uma bacia de plástico.

  Outras coisas eu não sou ou não poderia ser porque não tive oportunidade. Como uma grama molhada que nunca fui e nem serei, ou um pé de lavanda. Nunca pude ser uma manga doce ou um pote de açaí. Jamais pude ser uma manha de domingo e não fui uma noite de inverno.

  Algumas coisas talvez eu não seja porque abri mão delas; não sou uma vendedora de pulseirinha de conchas na praia, uma professora universitária de limnologia e nunca serei monja ou ruiva.

  Enfim, tudo o que eu não fui, ou não sou, me aproximou do que realmente sou... ou não.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Procurando


Se vivêssemos em um mundo real, não existiriam açougueiros e nem bancários.
No nosso imaginário, pianistas vivem como se fossem farmacêuticos, contadores de histórias são feirantes, fadas do dente podem ser ortodontistas e bailarinas são vitrinistas.
Não sei ao certo como viemos parar nesse terreno tão irreal e tão diferente do que realmente somos, mas em alguma parte do caminho ficou nossa essência. O nosso verdadeiro ser.
Imagino que tenha ocorrido algo muito grave, para que fôssemos obrigados a usar nossa imaginação de forma tão incisiva, e deve ser muito perigoso tentar descobrir os porquês, afinal, crise existencial explica quase tudo.
A aceitação definitiva do imaginário implica na perda do real.
E perder-se do mundo real, é perder a capacidade de ver as coisas na sua totalidade. É simplesmente aceitar como verdade absoluta  o que é transitório e mensurável. Quando a realidade perde-se na imaginação, não nos vemos mais sem as fantasias.
Acho que me vestiram essa fantasia de hoje, quando, lá no mundo real descobriram que eu tinha medo do escuro, me ensinaram como a luz funcionava e fui ajudar quem tinha medo também, na verdade o que me ajudava era  apenas escrever histórias com finais doces.
Quando o imaginário me permite ser real; sou apenas eu, papel e um lápis.
E você? Quem era você no mundo real sem a fantasia de hoje? ...



Chegar no silêncio
Sem acordar
Deitar e ser sonho junto...


Tempo Antes



O tempo se confunde
Esperando o passar de tudo
Procurando um tempo passado
Onde morava antes do tempo agora
Querendo o minuto do tempo além
Sem ver o caminhar lento do tempo hoje
Perdendo-se nas horas do tempo de ontem...