Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma Escolha





De todos os equivocos humanos talvez o maior deles  esteja em tentar explicar, justificar ou classificar sentimentos.

É ilusório e irreal imaginar que se conseguirmos explicar o porquê, sentimos melhor. A justificativa é na verdade uma fuga, é uma tentativa de expressar algo já fadado ao fracasso. Não o fracasso temporal e mensurável, mas aquele que te fala em segredo, interiormente. Aquela voz suave que te fala antes de adormermeceres, a voz que conhece o teu íntimo.
Quando o sentimento acontece, códigos verbais são desnecessários, ocupam um espaço não disponível. Seria como prender uma borboleta em um pote de vidro.
O Sentir é uma transformação interior, uma fala oculta. É uma contribuição antes de tudo individual. Uma grande mudança no íntimo.
O mais difícil de assimilar no sentir, é o fato de que ele precisa ser independente.
A plenitude da verdade do sentimento só acontece quando ele é desvinculado de objetos ou projeções.
Se necessita de um porquê, não é real. Na verdade, pode ser real, mas em outro sentido, uma inversão.
O sentimento nasce como abstrato, precisa amadurecer no abstrato. Se ele nasce no concreto, pulam-se etapas e o ciclo não se completa.
Se  ele  não se bastar, não encontrará na figura projetiva o aporte necessário para sua maturação, fica sem base.
De qualquer maneira, toda forma de sentir leva a algum lugar, mesmo que seja apenas um engano consciente, ou uma fuga solitária...


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