Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

hermafrodita



Gente muito séria.
Muitas sombrinhas.
Muitas faixas de pedestres.
Muitos esparadrapos.
Pouca conversa ou muito controle.
Muita rigidez de horários.
Pouca brisa.
Muita enxurrada.
Muitos manuais e falta de prática.
Muitos jornais e poucos livros.
Casas e não lares.
Gozo vazio.
Poucos bilhetes de trem e infinitas pontes aéreas.
Muita roupa.
Cama arrumada por quê?
Muitos emails e nenhuma carta.
Excesso de maquiagem e falta de cultura.
Salto muito alto e pouca imaginação.
Falta de senso de humor e muitas gravatas.
Muito ar condicionado.
Pouco respirar...
Muita memória sem lembrança.
Muitas impressões e nenhuma segunda intenção.
Pouca hipérbole e muitos pleonasmos.
A estrada sem caminho.
A mão na pedra sem o magnésio.
Música sem melodia.
O prazer do braille na pele.
Ler Olavo Bilac e desejar ouvir, sentir, viver Neruda.





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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.