Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Exercício de desconstrução


Uma simetria inversa. A perda do que se buscava. Um tempo onde nada muda e o nada perde-se em meio a tudo. As pontes que não ousamos atravessar. A água que molha mais do que nossos pés. O desencontro das palavras. Relógio quebrado em um tempo que não voltará. Resgate. As janelas que nunca ousamos abrir já criam limo em seus vidros inteiros, o que se adentra é apenas pedaço do que nos foi negado. Uma desconstrução na alma, nada fará sentido em meio à palavras tão carregadas. Perde-se. A negação de um caminho que mostra-se estrada longa e rochosa. Partiremos. Ou permaneceremos aqui, no lugar que não nos pertence e onde a luz chega apenas pelas frestas de outros espectros. Uma deformidade na escrita e na ordem do que sentimos. Um não sentir dormente. Uma lente grossa que ofusca a visão de dentro para fora. Cortina fechada, hoje o espetáculo é do outro lado, sem platéia. Não dormiremos com medo de ver o sonho que acorda a noite e permanece quando os olhos abrem-se. Partir. Ficar. Dormir. Negar. Permanecer e verbalizar a expressão presa. 

( O leite azeda fora da geladeira. O prato quebra e frutas mofam. Bolor dentro e fora. Mofo. Pó. Continuo perdendo as chaves e a porta cresce. A grama também cresce sem que as formigas percebam o bosque que se forma no macro desse micro universo. A vida segue e brota. Não sentiremos o luto das coisas perdidas. Sigamos. )


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