Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

terça-feira, 10 de julho de 2012

O cesto de vime



Depois da curva, no alto do morro, já consigo ver as três casas. A estrada de pó e algum cascalho, nunca conhecerá a dureza do asfalto, é barro algumas vezes. Duas casas com a luz acesa. Uma delas, a do meio, é apagada. Quem vivia lá morreu de doença do fígado. Uma dor amarga o consumiu, nem o chá de losna no final da vida lhe parecia digno. Desistiu. Dorme agora onde é morada de granito cinza, quase um grafite escuro, ao lado da cruz maior que cuida de todos que ali repousam seus corpos e não mais tem relógios. Não faz diferença. Duas fotos amareladas na lápide. Os cônjuges dividem essa casa em paz agora. Sem litígios. E é como se o tempo entrasse em um acordo de cavalheiros com os outros dois. Muito antes sentiram medo, agora não mais. Seus desejos e projetos ficaram mumificados como todos os pertences das duas casa. Não há de se buscar mais oxigênio,  só o necessário. E nem o sol. Basta a luz que entra por entre a cortina. Não abra a janela. As ervas daninha cresceram na horta. As fotos ainda estão nos álbuns em cima do balcão de fórmica azul. Nunca será um amanhã diferente. O dia parou no hoje. Eles só têm o agora. A senilidade lhes é bondosa, os segundos foram apagadas, vivem só de dias arrastados. Não pesa. Quando abro a porta da última casa, o cheiro de minha infância busca o abraço que não mora mais aqui... Sobrou o cinamomo que já não tem mais sombra. É um guardião de uma casa que insisto em visitar sem ter ninguém para me receber. 

( Volto para buscar o cesto de vime que o nono prometeu.)







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