Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Olhos verdes




   Não se nasce pai, muitas vezes o filho nasce e o pai fica na incubadora, mas não vinga, é um desencontro. Dois estranhos e empatia não faz milagres.

   Meu pai  me ensinou ser mãe.

   Me ensinou também muito sobre a realidade dos distanciamentos, que nem sempre presença significa proximidade, e que a distancia é muito mais emocional do que física.

  Seria simples se a palavra pai não fosse tão carregada de simbolismos. E seria mais fácil ainda se os olhos fossem sempre da mesma cor e não mudassem se tem sol ou chuva, algumas vezes gelo. Talvez tudo esteja nos olhos. Talvez tudo falte aos meus olhos.

   Seria simples se fossemos simples.


     Eu pude escolher ser mãe. Enquanto filha, não tive essa escolha, o que não me torna menos falha.
  Eu preciso das integralidades.

  Talvez alguns pais não tenham escolhido seus títulos familiares. Talvez na hora da concepção, algum cromossomo paterno, vá para o filho, e no futuro esse cromossomo falte ao pai, lhe negando as características próprias.

  O mundo as vezes economiza estruturas labiais e as feições endurecem. 

  Por certo o filho reconheceria o pai, e o pai sorriria.

 Nada que nunca tenhas tido pode fazer falta realmente, então deve estar tudo no seu lugar certo. Cada um encenando seu papel. Cada cena com sua trilha sonora pré-determinada.

  Alguns textos jamais serão lidos por quem realmente os entenderia, e isso não faria a menor diferença.






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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.