A dor é um sentimento dobrado. Me apego a ela. É minha, não quero fingir que não sinto.
É um expurgo, chega como um abraço, laços de arame farpado. Quero sangrar por hoje. Sentir o coração gelar, a fisionomia endurecer. Sem sorrisos.
Quero sentar e conversar, ouvi-la, de voz fria, seca e dura.
Deixe-nos à sós.
Colocá-la em um altar, ajoelhar-me e venerá-la. É sagrada, de uma beleza rara. Sem lítio, sem amortecências, só sentir. Deixar sair.
Tem dias assim, não é ruim, um sofrimento libertador. Dor que cura a alma, sem curativos. Uma ferida que seca aberta.
Dói toda dor de mim, toda dor está em mim, e eu à respeito. Deixo doer e só. Quando ela passa e vai embora o corpo dorme exausto e a lembrança macia da dor acorda sem sentir.
Surge o sol e com ele encontro meu corpo abandonado que já pode sorrir.
( fica a sensação de olhar para o lado e ver um lugar vazio, o café frio... )
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.