Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Certezas


Eu nunca seria um Sanduíche com mostarda. Não seria uma Sala de espera, não poderia ser Comida apimentada, picante. Não seria Wiskie e nem Vodka. Nunca seria Sushi ou Gengibre. Nunca seria uma Certeza, não consigo ter certezas em afirmações, talvez em negações seja um pouco mais fácil. A Incerteza também eu não poderia ser e nem uma Parábola. Um Telefone eu não seria e nem um Ferro de passar roupas. Um Matemático eu não queria ser e nem Professora de culinária, tampouco seria Eu mesma ou uma Cigana.

  Eu não seria uma Tarde de sol escaldante e nem uma Tempestade destruidora. Não seria uma Crise de TPM e  nem um show de malabaries, não seria uma roseira e não poderia ser um picolé de milho verde, não poderia ser uma montanha muito alta. Não seria um sapato preto triste ou uma bota branca.

 Não sou mais quem eu era ontem e nem serei a mesma de hoje amanha. Como não serei alegre todo dia e muito menos triste sempre. Eu não seria aqueles figos em calda e nem compota de abóbora.

 Não sei ser um escândalo e nem uma missa , não sou uma melancia gelada e não sou um pote de sal. Não sou qualquer preconceito e nunca um bife de carne vermelha e nem branca, definitivamente eu nunca seria uma proteína.

  Uma agenda usável eu não poderia ser e nem uma planilha de excel. Não sou nada perto de 100% e nem um zero.

 Existem coisas que eu não seria porque não gosto; Eu nunca seria um pé de salsão ou um ovo. Eu não gostaria de ser um espeto, uma vassoura ou um guarda-chuva preto. E não seria um poodle ou um dromedário e nem uma bacia de plástico.

  Outras coisas eu não sou ou não poderia ser porque não tive oportunidade. Como uma grama molhada que nunca fui e nem serei, ou um pé de lavanda. Nunca pude ser uma manga doce ou um pote de açaí. Jamais pude ser uma manha de domingo e não fui uma noite de inverno.

  Algumas coisas talvez eu não seja porque abri mão delas; não sou uma vendedora de pulseirinha de conchas na praia, uma professora universitária de limnologia e nunca serei monja ou ruiva.

  Enfim, tudo o que eu não fui, ou não sou, me aproximou do que realmente sou... ou não.


Um comentário:

  1. Este texto é tão lindo!

    Alguém deveria publicá-lo num jornal, numa revista ou exibí-lo em algum canal famoso de comunicação!

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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.