Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Atrevimento dos dias assim


Parece que o pio leve do passarinho é só uma tristeza fraca, assim mesmo sem cantar, só um piar lamentando o que ainda não foi. O musgo que cresce ao lado da janela também parece ter perdido um pouco do verde. Umidade demais. Unidade. Mesmo que não chova, nas nuvens vejo um pesar, talvez seja natural que o interpérie imagine o brilhar do sol nesses dias como um atrevimento, afinal nada hoje justifica esse céu assim escancarado e o sol amarelo que me soa falso. Nem o sino deveria movimentar-se no campanário hoje às seis da tarde, mas ele tem sua rotina e vai badalar por respeito as horas que lhe são sagradas. Aqui nunca é dezoito, sempre serão apenas doze as horas. Isso é o bastante.

( desde que se quebraram os relógios, só o sino me lembra que é hora de passar a ponte, e mesmo que eu não queira, tenho que estar lá quando a coruja piar.)

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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.