Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Um café




Passava bastante já do meio-dia, sentadas no café falavamos sobre projetos, faziamos planos, Ana almoçava e eu tomava um café. Fazia muito tempo que não conversávamos, e os assuntos vinham urgentes e misturados, a dieta seguiria por email, o roteiro seria iniciado e eis que surge a expressão derradeira:

- Ana, tem algo errado comigo.

- Não tem nada errado contigo, teus textos estão amadurecendo como tu, estão mais substanciosos. ( risos).

- Não Ana, não falo de escrever, falo de acontecer. Olha só: eu separo o lixo, tenho uma horta orgânica, tomo banho em menos de sete minutos, estou  lendo coisas bacanas e vendo bons filmes, te juro que me esforço para selecionar o que é importante e verdadeiro.

- Isso dá um baita texto guria. ( Muitos risos nessa hora )

- Então Ana, é sobre isso, eu queria sair dos textos, sair dos livros e dos filmes. Eu queria uma vida de verdade. Me sinto estranha, estagnada, enquanto tudo parece evoluir e caminhar em direção à etapas cumpridas de vidas que tornam-se completas, eu fico aqui presa em um tempo que nem sei definir.

- Guria!!!! ( Cara de espanto divertido) Parece que eu estou te lendo. Que doidera isso.

- Tu tá vendo Ana, falei que sou estranha, as pessoas não me vêem, só me lêem. Quando será que vai chegar a minha vez de fazer coisas? De senti-las?

- Não sei, pega aqui um pedaço desse chocolate, serotonina vai nos fazer bem hoje!!

- Não, esse chocolate tem coco, eu não gosto...

Fomos embora, Ana tinha dentista e eu precisava terminar várias coisas ainda daquele texto diário que apelidaram de rotina...

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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.