Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Beauvoir apaixonada - de Irène Frain



( deveria ser a foto do livro aqui, mas amo essa foto... )

     Irène Frain, escritora francesa, formada em letras clássicas, escrevendo a biografia de um amor entre a personagem mais importante da liberação feminina e o bad boy da literatura americana. Como resistir? Pois a obra fica à altura da expectativa que criei na hora que escolhi o livro. Ela desfaz o mito de mártir do feminismo e resgata a imagem de ser humano, a fragilidade das emoções e a força dos laços. Como se não bastasse a grandeza dos personagens já citados, em três ocasiões cita Hemingway, inclusive fazendo alusão à sua obra em um sub-título " Paris foi quase uma festa ". Impossível não considerar um livro admirável.

" É minha vida, e a vivi como quis vivê-la...
O mundo real é uma verdadeira bagunça. " - Simone de Beauvoir

" Finalmente, como imaginar que uma mulher dessa magnitude, no auge de sua inteligência, pudesse viver sob a ascendência de um homem? Subjugação, de qualquer maneira, ele não tinha a menor ideia do que era. Dependência, além daquela de Margo às drogas, só conhecia a sua: ao jogo. Apostas em corridas de cavalos, as partidas de pôquer que jogava regularmente, queimando os adiantamentos recebidos de seu editor. Portanto, depois de Wabansia, era impossível fazer alguma ideia do que aconteceu com Simone na Califórnia: um lento, mas infalível mergulho nas águas tenebrosas do desespero. Tudo porque não tem notícias de Sartre."

" Cruzamos com alguém, nos interessamos um pelo outro, paramos. E o próprio tempo também para. Bom, ele faz que para: de um momento para o outro, acorda. Então nos separamos, porque temos outras coisas mais importantes. Ou porque assim nos parece. Grandes instantes da vida, pequenas mortes."

" A eternidade durou três dias. O sol e o céu azul se obstinaram, ficou cada vez mais azul e mais bonito. Nelson esqueceu seu lado escuro. E Simone, o frio na alma em que vivera até então. Os livros se escreviam neles..."

" Quando examinamos as pedras de âmbar, muitas vezes nelas podemos distinguir, embalsamados no mineral, fragmentos de samambaias ou de insetos perfeitamente conservados, que chamamos de inclusões. Alguma coisa aconteceu, há centenas de milhões de anos, no fundo de uma floresta. Nunca saberemos o quê, entretanto subsiste um traço. Algo que não quer morrer por completo. Essa obstinação fascina, ficamos por vezes fixando neles nosso olhar sem poder nos afastar.
  É o que também acontece com as histórias de amor: mesmo quando já acabaram, fragmentos - restos de cena, palavras em migalhas, gestos alçados em voo - permanecem eternizados na memória dos amantes e não morrem senão com eles. "







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.