Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Emma - de Jane Austen


Essas mulheres incríveis de Jane Austen. 
Emma vai ficar para sempre no meu coração. História bela e inspiradora. Cativante e meiga, tão cheia de pormenores. Um romance verdadeiro, clássico. Eterno. Como ela podia em 1816 ter tanto tato com uma verdade que ela nem mesma pode vivenciar? Quanta delicadeza e cuidado na construção de cada personagem. Quanto amor pela escrita. Impossível não citar a elegância da narrativa. Absolutamente impossível não admirar tamanho talento.


" - Não posso fazer discursos, Emma - prosseguiu o Sr. Knightley, em um tom suave e sincero que denotava uma profunda e convincente ternura. - Talvez se a amasse menos eu conseguisse dizer mais. Mas você sabe como sou. Nunca ouviu de mim senão a verdade. Eu a acusei, a repreendi e você suportou tudo como nenhuma outra mulher na Inglaterra o faria. Escute as verdade que vou lhe dizer agora, querida Emma, como sempre tem feito. O modo que vou dizê-las talvez as recomende muito pouco... Deus sabe que tenho sido um apaixonado muito indiferente. Mas você me compreende. Sim, veja, você compreende meus sentimentos e os retribuirá se puder. No momento peço-lhe apenas que me permita ouvir sua voz, pelo menos uma vez. (...) 
      Agora, ela era sua Emma pelo sentimento e a palavra quando voltaram para casa. " 


Para ler em um final de semana tranquilo. Para reler sempre que precisar acreditar em histórias bonitas!



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014



Para mim!
Para te esperar
( eu sei que tu vens aqui vez ou outra )
Esse te esperar é bonito
 Se eu as mandasse até ti, acho que te apresso.
Por nada te quero com pressa
( hoje é apenas de flores essa urgência )
Teu tempo é lugar sagrado
E quem se demora sempre sou eu.
Cabe em mim todas flores dessa hora que talvez seja 
apenas de enfeitar palavras que tem medo.
De ti e de mim
De um nós que se reencontra depois da época da poda,
quando as folhas já caíram e estão brotando gemas de algo bonito.
Te espero
( com flores )
Me espere. É só o tempo de sarar alguns pontos pequenos.
Logo a estação é nova, e tudo muda.
Nunca acreditei no verão.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sobre figos e uvas


Já estamos novamente na estação dos figos, eles amadurecem junto com as uvas. Irmãos. Dividem a mesma terra mãe e a mesma doçura, diferem na cor e textura. São pares. São únicos. Úmidos e densos. São raros. Não ousaria misturá-los, são perfeitamente distintos. Suculentos. A cor da uva, o cor do figo. Cores ásperas, na casca do figo os dedos sentem a porosidade por onde sua polpa doce quer respirar. A uva de casca lisa guarda os taninos que se apuram para envelhecerem em garrafas verdes. Doce de figo feito liquido de uva fermentado. O vinho. O doce do próprio figo explode em sabores nas sementinhas perdidas às milhares, que  cozidas com açúcar são granulosas como a própria terra onde crescem. A uva exala perfume, os figos racham-se, e formam uma gotinha que provoca inveja nas abelhas atraindo formigas e, nós. 

Deixa eu te contar dos figos e das uvas? Deixa eu te servir uma salada de rúcula com presunto cozido, queijo e figos com mel? Toma uma taça de vinho comigo? Me conta que gosto tem os figos para ti?

( impossível morder um figo maduro e não pensar em ti )






Monólogo


A insônia sempre chega, nunca falha. Me olha como se minha insanidade perante ela fosse de uma pureza imaculada.

Por que estás aqui?
És monstruosa de insensibilidade.
Te odeio tanto que acabo por confundir-te com minha própria loucura.
És minha loucura, noturna.
És tão tola. Não percebes que posso deixar-te cega?
Por que não desistes? Por que não te aquietas?
Queres me levar mais o que? Onde queres chegar?
Por que conversamos?
És muda, e, feia.

(  estranha, nunca tranca a porta quando entra, chega sem avisar e vai embora quando bem entende, fala sozinha e nunca toma chá. És definitivamente uma louca a vagar pelas madrugadas, insolente e mal vestida. )

Quem falava, eu ou tu?






Todo resto era irrelevante


Fui dormir pensando nisso 
passei a noite acordado com a ideia fixa
agora estou decidido: vou me mudar!
pros teus lábios
quero morar neles
e instaurar um domingo morno e preguiçoso a cada beijo
[ muita, muita vontade de morar no teu beijo ]

E quando nos beijávamos e eu perdia a respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nascente?

E me respondias, voz trêmula:
estou nascendo agora

E a tua mão ascendia 
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?

E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti meu amor.


Mia Couto 

***

Naquela hora minha boca era cor de febre, e eu te amava sem palavras. Era apenas o toque dos lábios que ficaria adormecido, na lembrança, no meio da tua suavidade. E, coube no beijo, dois corpos, que mesmo distantes, agora falavam tântrico. Nesse mesmo momento, muitos, muitos segundos de pele e saliva. Nos tornamos mortais e antiquados. Caímos. ( de paixão, acreditas? )



E se colocar um pouco de pimenta?





quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Elizabeth Gilbert


Li Comer, Rezar, Amar em 2009. Depois disso o li mais duas vezes, a última semana passada. Cada nova leitura é um novo presente. O livro autobiográfico em que Elizabeth Gilbert, escritora americana, na época com 36 anos, narra sua busca pelo equilíbrio, depois de um divórcio tumultuado e o rompimento de um romance turbulento. A autora embarca numa viagem que duraria quase um ano, dividida em três roteiros fantásticos. 

Decidida a reencontrar os prazeres da vida viaja à Itália, depois disposta a encontrar Deus ou apenas sua paz interior hospeda-se  em um templo budista na Índia. Três meses depois e sentindo-se mais perdida do que nunca chega à Bali, onde encontra um antigo guru que havia feito previsões acertadas alguns anos antes. Elizabeth não apenas se reequilibra espiritualmente, como também redescobre o Amor.

Esse não é o primeiro trabalho da autora, antes desse havia escrito Peregrinos, escolhido em 1997 pelo New York Times como um dos livros notáveis daquele ano e finalista do prêmio Pen/ Hemingway. Uma coletânea de contos fantástica. Uma coleção de contos de mulheres fortes e reais. 

Depois de Comer, Rezar, Amar, Gilbert escreve Comprometida, em 2010, onde narra sua aventura de casar-se novamente. De maneira bem humorada ela fala sobre sua história de amor e sobre os mitos do casamento nas mais variadas culturas.

O livro de mais sucesso certamente foi Comer, Rezar, Amar que virou filme e atraiu milhares de espectadores. Confesso que não gosto muito de comparar duas artes tão distintas como a literatura e o cinema, mas aqui fica quase impossível a não comparação, quem apenas vê o filme, mesmo sendo muito bem feito e muito fiel ao livro, perde muito da narrativa detalhada.

Em uma entrevista recente Elizabeth Gilbert fala que tentar escrever algo depois do estrondoso sucesso de seu best seller é assuatador. Para nosso sorte ela é uma mulher corajosa e no ano passado lançou A assinatura de Todas  as Coisas. Um romance de época que hoje a autora considera como seu melhor trabalho, e eu estou ansiosa para ler.
 ***

Comer Rezar Amar, um livro para quem busca coragem de seguir o próprio caminho.
Peregrinos, um livro inspirador sobre a alma feminina.
Comprometida, um livro sobre a realidade por trás do mito da instituição do Casamento.






quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hipoteticamente uma espera


Eu te esperaria, se prometeres que vens, fico aqui. Espero. Não demores. Espero. Não sei dos teus planos para hoje, só quero que tenhamos um hoje. Que sejamos nós. Que não estejamos sós. Espero. Não esperes, venhas. Me ensines como fazer. Quero deixar as hipóteses de lado e ser verdade. Estranhamente penso no futuro e nos coloco lá. Mas e o agora? Espero. Uma saudade hipotética, uma solidão que parece bem real. Um aperto no peito que machuca sem tocar. Uma realidade dentro de uma história inventada. Não temos garantias. Não temos certezas e nem motivos para acreditar. Como também não temos nada que nos leve na direção contrária. Não temos nada. Espero. 

Eu te chamaria, se não tivesse tanto medo de tudo que nos observa ao longe. Nem tão longe. O passado é logo ali. Espero que passe. Espero. Escrevo-te. Espero que tenhas aprendido a ler. Não há razão para buscar cartas sem remetente. Tomara que esperes.



Do encantamento de te esperar


Não te quero apenas possibilidade
Não te quero distante
Não te quero fantasia

Te quero real
Aqui comigo
Palpável

Não te quero apenas amigo
Não te quero ausente
Não te quero metade

Te quero inteiro
No abraço
Sempre

Não te quero apenas ilusão
Não te quero receoso
Não te quero inatingível

Te quero Amar
No encontro
No encanto de um hoje