Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Da orfandade


O que sobra é sempre tão diferente do que permanece. Perdoar vai muito além de esquecer. Depois de deixar as janelas fechadas por muito tempo é tão difícil andar calmamente pelas manhãs onde o sol já toma conta do que antes foi apenas uma penumbra. Nunca os olhos mantem-se tão abertos. É sempre uma visão alterada pela meia pálpebra que cai sobre a retina cansada. Deixa-me aqui. Esqueça e siga. Ou fique e peça-me que saia. Mas fale. O silêncio que entra por entre as veias cria uma dormência que arrasta-se por todo ser de quem sente apenas a frieza das cores mais esverdeadas. O sangue que sempre dividiu-nos, a proximidade que insiste nos afastamentos. O tempo que não te muda. O instante das palavras duras que quebram até o que parecia imune à tamanha pequenez. O medo do que fica sobreposto, a  formalidade desnecessária. Acho que não tenho foto alguma contigo. Sigamos.

( E há quem duvide da previsibilidade das coisas )