Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Olhos da manhã



e parecia um dia normal
o sol teve a ousadia de aparecer
os olhos demoraram um pouco à acostumar
o tempo passava igual
a música ecoava distante
o mundo parecia empoeirado

Voltou-se para dentro e me disse calma:
- Feche os olhos, quero te mostrar meu mundo!
Eu apenas sorri e, pude ver então...


( Ana e Francesco no dia que olharam para dentro )


terça-feira, 29 de maio de 2012

Insieme


Cerco i tuoi occhi tra la folla
cerco il tuo respiro ad ogni mio respiro
cerco il sorriso quando piango
cerco la tua mano ogni volta che io guardo la mia
vai via dai miei sogni
esisti e diventa presente per me
no staccheró piu' le mie mane dal tuo corpo
no staccheró piu' le mie labbra dalle tue
il mio sorriso sarà tuo
respiremo insieme per sempre.


Pádova, 15 de um fevereiro bonito


Quando fui chuva

As linhas




Dos meus pensamentos ou desejos mais pretensiosos, o maior deles é te imaginar com saudades.

Se assim fosse, imaginaria que a  forma ( tua ) de encontrar-me inteira, seria aqui; lendo-me. O  lugar onde posso ser ( eu ), o único lugar onde admitiria também sentir saudades...

E talvez quando eu não mais sentir, não escreva... Por hora ainda tenho longas folhas brancas para riscar, de saudade... Ou as deixe em branco ( de saudade ).







sábado, 26 de maio de 2012




(...) saiu da livraria com as mãos vazias, os livros não conversavam, não diziam mais nada. Olhou para a camisa e viu os respingos do café da noite anterior, lembrou que não tomara banho, nem trocara a roupa, não havia morrido e nem vivia mais...


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Fragmentos



Uma vida inerte, pálida, empoeirada de escombros
Nasceu da desconstrução, para a desconstrução
Por vezes imagina a mudança, mas só o que vê é a pilha de destroços
Acúmulos de pedaços, nada permanece inteiro
Fragmentalidades
Sobras de todas as faltas
Falta de tudo que quebra
Sentidos no transe da sinestesia
Traços em espiral, nunca uma linha linear
Tempo emprestado
Cabelos presos
Um (des) sentir-se
Mãos frias
Mãos no singular




Água doce




Então naquele dia pôde chover-se
E tudo tornava-se simples agora
Era apenas o encantamento do lavar
Como se junto com cada gota que chega
Derrete-se algo do sal pesado nos corpos secos...
E a vida limpa-se da própria vida em um chover.





domingo, 20 de maio de 2012




Impossível viver os domingos




Relógio quebrado



Às vezes os instantes cessam, o relógio silencia e o tempo não existe.
Melhor não escrever nesse hora.
Melhor não pensar.
Melhor silenciar junto.
Do contrário, as palavras podem parecer distantes, frias, duras e ásperas.
Podem ( querer ) machucar.
Melhor que não encontre lápis, ou papel.
Melhor esquecer.
Deixar que o tempo volte ao seu ajuste normal.
Melhor deixar que se cure, retorne ao seu equilíbrio, sozinho.
Sozinho também é melhor estar enquanto o silencio do tempo parece interminável.
Melhor tentar dormir...




sexta-feira, 18 de maio de 2012

Qualquer sentimento ( ou falta dele )



Colocas o casaco sem o habitar
casaco vazio 
( sentes o frio )

Olhas para tudo sem enxergar
olhar perdido  
( sentes a falta )

Procuras a outra mão sem encontrar
encontro adiado
( sentes a distância )

Respiras o ar sem inspiração
vida vazia 
( não sentes nada. )



quarta-feira, 16 de maio de 2012



Um pequeno bilhete:

Estou aqui longe, mas cuida de nós ai. Beijo.



 uma linha apenas que contava a história de duas vidas...



sexta-feira, 11 de maio de 2012



- Feliz?
- Sim!
- Agora posso ficar aqui. Sou Teu!
- Hum ( apenas baixou a cabeça e encostou no ombro dele por um instante )
- O que foi? Não era isso que querias?
- Te quero, mas se te tenho posso te perder! E isso me confunde, fico feliz e com medo!


( Ana e Francesco - Em um livro que ainda não foi escrito )





No abraço os ombros se juntam para dividir o peso de ser só. Existir pesa!





O que acontece depois está em tempo afastado. Ainda não é presente, é só um tempo diferente.









quinta-feira, 10 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Rascunho



Tinha apenas mais alguns minutos
uma Única palavra poderia ser escrita
algumas letras e a definição de toda sua escolha
o lápis não riscava.

De traçado leve,  quase como um borrão na folha branca

TEMPO


( o ponto final era em forma de lágrima no papel )

Caminhou em direção ao previsível, até não mais poder ser vista.


Ele olhou para mesa e não mais a viu. Caminhou rápido e apenas o papel o esperava.
Leu quase sem entender, teve que sentar para poder respirar melhor.
Olhava fixamente para a mesa com o escrito. Apenas Tempo.

Sim, entendia sim. Mas não podia crer, não queria crer.
Ele mudaria o Tempo. Faria dar Tempo, se preciso fosse faria um Tempo
Onde coubessem os dois.

Mas agora o tempo ficará preso para sempre naquela lágrima borrada em papel branco...


( Ficariam eles também presos, em Tempos diferentes... )





3.999 Margaridas ( pageviews )


Obrigada




A gratidão é sublime demais para ficar guardada
Precisa encontrar a face do dia e beijá-la

( sentir para entender )



segunda-feira, 7 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Inventário das meias tristes

 


  Eu já perdi anel, telefone celular, o casaco que eu adorava. Perdi um quase amor, o horário do ônibus, documentos. Perdi a fome, uma chave, já perdi a voz. Fiquei triste com essas perdas, mas nada que se possa comparar ao sentimento da meia no seu singular.

   Tenho uma gaveta cheia delas, sem par. Olhando assim, guardadas, acho que elas são o que pode existir de mais triste. Uma meia sozinha, no meio de tantas outras meias sozinhas.

  Inteira, uma meia já é metade. Sozinha, o que é?  ( falta ) ? Sem saber o destino da sua outra parte,  esperando um retorno, um milagre.

  Guardar meia sem par é crueldade, uma maldade sem tamanho.

  A dor de não saber o porquê. A eterna dúvida. Espera constante. É apenas meia, mas inteira solitária e vazia, do seu lado, sem o par. Fica sem destino, para sempre no fundo de uma gaveta, não se transforma em nada, não vai à lugar algum.

  De tudo que pode ser triste: uma xícara sem a asa, um prato trincado, um bule sem tampa, um chinelo velho, um cobertor rasgado, uma sombrinha furada... Nada nunca será tão triste como a meia sem par.

 As outras coisas tristes, acabam tendo destino. Viram outros objetos, ganham outros formatos. Podem servir de vaso, virar pano, até ir para o lixo.

  O único consolo da meia é a gaveta escura, sem saber o que aconteceu do seu outro lado.

Somente meio meia.


Um ontem, Ou hoje?